Título: Sem caixa, Varig estuda oferta para vender a VarigLog
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Empresas &, p. B4

Aviação Investidor estrangeiro já teria feito auditorias na subsidiária de transporte de carga

A Varig e a Fundação Ruben Berta analisam uma proposta de compra da VarigLog, a subsidiária de transporte de carga da companhia aérea. A proposta teria sido feita por um investidor estrangeiro, que esteve fazendo auditoria na companhia nas últimas semanas. Não seria um investidor operacional, mas sim financeiro. Tampouco seria um concorrente da aérea. A venda da subsidiária agora é tida por alguns envolvidos na reestruturação da companhia como um passo crucial dentro da recuperação judicial. Isso porque a aérea enfrenta grave falta de caixa - com salários e outras despesas em atraso - e a operação serviria para injetar alguma liquidez enquanto caminha o processo. Consultado, o presidente do conselho de administração da Varig, David Zylbersztajn, confirmou a informação, mas não revelou quem seria o interessado. "Há uma oferta e estamos estudando com a Fundação Ruben Berta", disse. A proposta já foi aprovada pelo conselho de administração da Varig. "Mas ainda falta a aprovação da fundação e do juiz responsável pela recuperação judicial", explicou. Zylbersztajn disse que a companhia está sendo assessorada pelo banco UBS na operação. Segundo o Valor apurou, um termo de compromisso esteve na iminência de ser assinado ao longo dos últimos dias. E ainda há a expectativa de um desfecho próximo. "O problema é que numa operação de venda de empresa, não existe meio termo. O negócio está avançado, mas pode sair ou não", diz um executivo envolvido. Ao mesmo tempo em que sabem da urgente necessidade de caixa da Varig, os curadores da FRB estariam resistindo em concordar em fatiá-la. Temem a perda de valor da companhia aérea a partir da cisão. "A situação da empresa não é nada confortável, mas a Varig não está acostumada a ter agilidade na decisão", diz outro executivo. Assim que ingressou na recuperação judicial, a Varig foi surpreendida pela decisão de fornecedores e do Banco do Brasil de cortar o seu acesso a crédito. Isso agravou o seu problema de liquidez que, imaginava-se, seria em parte estancado com a recuperação judicial. Até agora, a companhia ainda não conseguiu fechar nenhum financiamento com bancos, embora venha negociando com vários deles, principalmente de médio porte. A International Lease Finance Corp., que tem onze aeronaves alugadas para a Varig, revelou ontem que a companhia deixou de pagar o leasing de quatro delas em julho e também em agosto. Por uma decisão da Corte de Nova York, as companhias de leasing estão impedidas de retomar os aviões em poder da Varig até setembro. A VarigLog foi criada em 2000 e no ano passado faturou US$ 497 milhões, 23,5% a mais do que em 2003. Atualmente, a empresa tem 11 cargueiros próprios. Mas ainda é enormemente dependente dos porões dos aviões de passageiros da própria Varig. Há estimativas de que metade de sua receita ainda dependa da companhia-mãe. Esse quadro desperta ceticismo no setor. Segundo um credor da Varig, a VarigLog não teria grande valor caso a aérea não sobreviva à recuperação judicial. E esse risco deve estar sendo considerado no cálculo do preço agora. Outro aspecto em estudo é como transferir o controle da subsidiária para um estrangeiro. O limite máximo de participação de 20% do capital votante para investidores estrangeiros em companhias aéreas vale também para uma empresa de carga como a VarigLog.