Título: PF investiga Kroll e grupo Opportunity
Autor: Marli Olmos e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Finanças, p. C3

Numa operação deflagrada simultaneamente em cinco cidades do país, a Polícia Federal apreendeu ontem farta quantidade de equipamentos de escuta e documentos em escritórios da Kroll e no Opportunity e autuou em flagrante cinco pessoas ligadas à empresa de investigação. Chamada de " Operação Chacal " , a ação mobilizou 90 policiais federais e cumpriu, ao mesmo tempo, sete mandados de busca e apreensão em São Paulo, seis no Rio de Janeiro e mais três em Brasília, Curitiba e Ribeirão Preto (SP). A Kroll é acusada de espionar a Telecom Italia a mando da Brasil Telecom, do grupo Opportunity, que pertence a Daniel Dantas. O Opportunity e a Telecom Itália disputam o controle acionário da Brasil Telecom (BrT). O episódio de espionagem veio à tona no fim de julho. Em relatórios à BrT, a Kroll anexava mensagens eletrônicas trocadas pelo ex-executivo do Opportunity, Luís Roberto Demarco (hoje em litígio com Dantas), e o ministro Luiz Gushiken. Os e-mails eram anteriores à posse de Gushiken. O petista tinha uma empresa que prestava consultoria a fundos de pensão - a Gushiken & Associados, hoje GlobalPrev. Em ocasiões anteriores, Demarco declarou que 4 mil mensagens haviam sido furtadas de seu computador por sua ex-mulher Maria Regina Yazbek, para serem entregues ao Opportunity. O caso virou briga na Justiça e as mensagens tornaram-se públicas em processo da 28ª Vara Cível de São Paulo. No episódio da Kroll, tornou-se público que outros membros do governo foram investigados, entre eles Cássio Casseb, presidente do Banco do Brasil, que chegou a prestar serviços à Telecom Itália antes de ir para o governo. Na operação de ontem, a PF apreendeu computadores, equipamentos de escuta ambiental e de telefone, além de documentos. " Reunimos provas que levam à conclusão de que a Kroll estava exercendo atividades ilegais no Brasil " , disse Romero Menezes, delegado da PF de Brasília, que orientou a ação em São Paulo. Segundo Menezes, o caso envolve, ainda, servidores e repartições públicas por terem facilitado o acesso a documentos que só poderiam ter sido entregues mediante autorização judicial. A investigação começou em fevereiro, quando a polícia ouvia testemunha no caso da Parmalat. Em São Paulo, foram presos e autuados em flagrante Eduardo Gomide e Vander Giordano, responsáveis pelo escritório da Kroll; Júlia Marinho Leitão da Cunha, que fazia contratações de terceiros; e Rodrigo de Azevedo Ventura e Ricardo Sanches, responsáveis pela operação de equipamentos. Eles foram indiciados por crime formação de quadrilha e serão autuados por oferecimento de vantagens a testemunhas, divulgação de segredos, usurpação de função, obtenção de dados bancários e quebra de sigilo telefônico. As penas variam até quatro anos de prisão. Outros envolvidos não serão revelados antes de cumpridos os mandados de prisão. Segundo Menezes, a investigação não envolve autoridade do governo. No Rio, a operação foi comandada por Ângelo Gioia, chefe da Delegacia de Controle de Segurança Privada da PF do Rio. Ele ficou encarregado do cumprimento do mandado de busca e apreensão nos endereços mais sensíveis: a cobertura na avenida Vieira Souto onde mora Daniel Dantas e seu escritório no Opportunity. Embora fontes do grupo tenham informado que Dantas estava na instituição, a PF afirmou que ele não foi encontrado em nenhum dos locais. Após 9 horas, Gioia e seus agentes deixaram o prédio do Opportunity carregando três malotes, dos 22 apreendidos no Rio. Da busca, saíram discos rígidos de computadores, agendas (inclusive eletrônicas) e documentos, que serão submetidos à perícia em São Paulo. O material de informática deve ir para Brasília. A apreensão de documentos cumpriu ordem expedida pelo juiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira, titular da 5ª Vara Criminal de São Paulo. A PF fez buscas em seis endereços, inclusive no escritório da Kroll na torre do Rio Sul e na casa do português Tiago Verdial, que chegou a ser preso e liberado, em julho, sob a acusação de atuar como espião.