Título: BC segura juro pelo terceiro mês
Autor: Alex Ribeiro e Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Finanças, p. C1

Política Monetária Copom não dá sinais de quando terminará o atual ciclo de aperto

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade manter, pelo terceiro mês seguido, a taxa básica de juros em 19,75% ao ano. O breve comunicado divulgado após a reunião não dá sinais de quando poderá ser adotada uma política monetária menos restritiva: "Avaliando as perspectivas para a trajetória de inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 19,75% ao ano, sem viés". Na semana que vem, será divulgada a ata do encontro, detalhando os motivos da decisão. Na sua ata anterior, da reunião de julho, o Copom havia sinalizado que não baixaria os juros agora. "A perspectiva de manutenção da taxa básica por um período suficientemente longo de tempo seria capaz de proporcionar a convergência da inflação para a trajetória das metas", diz o documento. O Copom não deixou claro o que seria "um período relativamente longo de tempo", mas, de forma geral, os analistas econômicos acreditam que no mês que vem poderá haver o primeiro corte na taxa, segundo pesquisa semanal de expectativas do mercado financeiro do BC. O Copom voltará a se reunir nos dias 13 e 14 de setembro. No mês que vem, completa um ano do atual ciclo de aperto da política monetária, o mais longo da história. Com a justificativa de combater pressões inflacionárias decorrentes de descompassos entre oferta e demanda, em setembro de 2004 o BC elevou, inicialmente, os juros de 16% para 16,25% ao ano. Nos meses seguintes, em nove movimentos, a taxa foi elevada para os atuais 19,75% ao ano. A estabilidade da Selic não surpreende os analistas. O consenso entre os economistas de bancos era mesmo de manutenção da taxa em agosto, embora ontem à tarde o mercado futuro de juros da BM&F tenha se mostrado mais otimista, já admitindo um corte imediato de 0,25 ponto. De qualquer forma, o consenso maciço é de que o ciclo de desaperto irá começar no encontro de setembro. Não há muita solidez na argumentação de que o BC estaria preocupado com a alta do petróleo e a crise política. O economista-chefe da Global Invest Asset Management, Alex Agostini, diz que o conservadorismo do BC tem o objetivo de desempatar o jogo. Desde a criação do regime monetário de metas de inflação, em 1999, o BC atingiu o alvo em três oportunidades e em três passou longe. Quer agora acertar em cheio o alvo de 5,1% definido para 2005, uma inesperada vitória, uma vez que até maio o que se discutia era a possibilidade de rompimento do teto de 7% da banda de flutuação do IPCA. A pesada apreciação cambial e a deflação dos produtos agrícolas colocaram o BC de novo no jogo. "Agora ele vai buscar os 5,1%", diz Agostini. Com a reiteração do juro de 19,75%, exagerado em face da persistente deflação, o BC sinaliza a intenção de rechaçar dois riscos potenciais ao alcance da meta. O primeiro , direto, é de o preço internacional do petróleo forçar uma elevação dos combustíveis. O segundo, indireto, é de a alta da inflação americana desencadeada justamente pelo petróleo induzir o Federal Reserve (Fed) a subir o juro mais do que vem sendo previsto. Nesse caso, poderá haver uma contração da liquidez internacional. A saída de dólares do Brasil provocaria uma alta do dólar, com impacto negativo sobre a inflação. Mas, para Agostini, a probabilidade desses dois efeitos negativos é quase zero. Na verdade, o Copom mantém o juro não só visando a cumprir a meta de 2005, como também a tornar mais factível o ambicioso alvo de 4,5% fixado para 2006. Como a deflação atual irá provocar uma inércia benigno nos preços administrados em 2006, o BC está preparando hoje o caminho para que o país cresça no ano que vem com baixa inflação. O consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, diz que a estabilização do juro em patamar elevado se destina a dissuadir saída de capitais estrangeiros no caso de ocorrer uma retração na liquidez internacional. Para o consultor, esse cenário de restrição já começa a ocorrer. "O BC perdeu o timing. Ele já poderia ter baixado o juro. Agora pode ser tarde", diz. Para o economista-chefe do ABN Amro Real, Mário Mesquita, a decisão do Copom não é inconsistente com o comportamento assumido por ele durante o ciclo de nove meses de alta do juro. "O BC maneja a política monetária com o objetivo de consolidar a queda nas expectativas de inflação do mercado", diz Mesquita. Não há, na sua opinião, premência em iniciar o ciclo de baixa porque a atividade econômica não vem se ressentindo do aperto. Os sinais são de que o PIB do segundo trimestre virá com crescimento acima de 1%. Por isso, a tendência é de o BC ser muito comedido no declínio. Mesquita acredita que na reunião de setembro terá início o movimento de baixa mas num ritmo muito suave, de 0,25 ponto. As entidades empresariais e sindicais criticaram a decisão do Copom. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, classificou a manutenção do juro "intolerável teimosia do Copom". De acordo com ele, a insistência em manter o juro amplia a frustração a extremos, "desrespeitando a inteligência dos brasileiros com explicações que não convencem". Para o presidente da Fiesp, o Copom perdeu "excelente oportunidade" de estimular o nível de atividades neste momento de crise política. Em nota oficial, a CUT diz que o Copom "novamente toma uma decisão contra o desenvolvimento do país e a favor do desemprego". Para a central dos trabalhadores, "somente o sistema financeiro é beneficiado por essa política de juros altos". O presidente da entidade, João Felício, pediu a demissão do presidente do BC e a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN).