Título: BC frustra otimismo de última hora
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Finanças, p. C2

A manutenção da Selic não pegou o mercado financeiro de surpresa, como também não surpreenderia um corte de 0,25 ponto. Embora formalmente a aposta dos analistas fosse de manutenção da taxa, no mercado futuro de juros da BM&F os bancos fecharam ontem as pontas das operações de forma a não sofrerem perdas no caso de o Copom do Banco Central decidir antecipar o início do ciclo de queda dos juros para agosto. O volume negociado nos contratos mais curtos disparou não só porque os investidores já trataram de rolar posições para o próximo vencimento mas também para se proteger contra um corte imediato da Selic. Como esta segunda hipótese não se confirmou, hoje a proteção será desarmada. O contrato mais curto, para a virada do mês, destronou a posição de janeiro de 2007 como a mais negociada. Movimentou R$ 15,79 bilhões contra R$ 9,17 bilhões do vencimento em janeiro de 2007. O segundo contrato com maior liquidez ontem foi o relativo à virada deste ano, com giro de R$ 15,54 bilhões. A razão é que a Selic prevista para dezembro ficaria menor que os 18% estimados pelo boletim Focus do BC se o Copom não tivesse frustrado as expectativas formadas ontem. O contrato que embute a previsão de CDI para dezembro, que ontem cedeu de 19% para 18,97%, já suportaria mais quatro cortes da Selic, de 0,50 ponto cada um, até o fim do ano. O otimismo do pregão de DI futuro da BM&F em relação à rota de queda da Selic contagiou os outros segmentos do mercado financeiro em um dia de incertezas externas. A Bovespa fechou em alta de 1,24%, com índice a 27.416 pontos. E o dólar caiu 0,16%, cotado a R$ 2,3540. O raciocínio dos mercados foi de que os dois últimos obstáculos ao desaperto monetário - a volatilidade provocada pela crise política e a escalada do preço do petróleo - começaram a ser removidos ontem.

DI se protege contra corte da Selic, sem necessidade

Os sinais são de que o epicentro da tormenta política passará ao largo do presidente Lula. E a cotação do petróleo despencou ontem em Nova York. Fechou cotado a US$ 63,25, desvalorização de 4,28%. Os especuladores trataram de realizar rapidamente os lucros recentes, sem esperar por disparadas adicionais, depois do choque dado ontem nos mercados pelo PPI, o Índice de Preços ao Produtor dos EUA. O indicador avançou 1% em julho, o dobro das expectativas dos analistas. O seu núcleo subiu 0,4%, ante previsão de 0,1%. O salto decorreu justamente do encarecimento do petróleo. Ou seja, a brincadeira de ficar puxando os preços do óleo indefinidamente para cima está ficando muito pesada. De repente, o Federal Reserve (Fed) pode se irritar com índices de inflação fora dos padrões e promover uma alta mais forte do juro básico americano. Nessa hipótese, o petróleo despencará, com ou sem (o mais provável, sem) demanda. Em 4,22% antes da divulgação do PPI, os juros dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA subiram para 4,28% depois. A Global Invest Asset Management descarta a possibilidade de o Fed promover uma parada técnica no movimento de alta do juro americano. A taxa deve continuar subindo em ritmo "comedido" a cada reunião, fechando o ano a 4,25%, um juro já suficientemente alto para inibir os investidores mais propensos ao risco.