Título: Indústria contrata menos e sinaliza freio na produção
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Admissões feitas pelo setor no país caíram de 56 mil, em julho de 2004, para 6 mil no mês passado

O saldo entre contratações e demissões nos empregos formais, em julho, foi positivo em 117.473 postos de trabalho. A variação sobre o saldo em julho do ano passado (202.033) foi negativa em 41,85%. No resultado acumulado entre janeiro e julho, o saldo também foi positivo: 1.083.776 empregos com carteira assinada. Para esse período, a variação sobre 2004 (1.236.689) foi negativa em 12,36%. A maior redução no crescimento do emprego formal, em julho, foi registrada na indústria da transformação. A variação sobre o saldo de julho de 2004 foi negativa em 89,07%. No mês passado, as contratações no setor superaram em 6.119 postos as demissões. Mas no ano passado, o saldo foi de 56.027 empregos. Segundo o Ministério do Trabalho, o número da indústria em julho "pode estar sinalizando um arrefecimento no ritmo do crescimento do emprego". No mês passado, os segmentos industriais que continuaram a demitir mais do que contratar foram madeira e mobiliário (-3.980), borracha/ fumo/ couros/ peles (-5.303) e calçados (-2.183). Ao divulgar os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho afirmou que, em julho, ocorre, todos os anos, uma queda mais significativa no saldo entre contratações e demissões. Essa característica é mais marcante na indústria e no comércio, representando uma espécie de intervalo antes do maior aquecimento do final do ano. Segundo essa análise, o aumento do emprego formal volta a ficar mais intenso em agosto e vai até outubro ou novembro. Além da indústria, outros setores da economia apresentaram, em julho, crescimento menor do emprego formal. A comparação é com o saldo registrado pelo Caged em julho de 2004. A agricultura teve variação negativa de 41,17%, os serviços apresentaram queda de 24,57% e o comércio foi no mesmo sentido: -13,86%. O destaque positivo no emprego com carteira assinada, em julho, ficou para a construção civil. As contratações nesse segmento superaram as demissões em 13.475 postos de trabalho, resultado que significa variação positiva de 25,96% sobre o saldo de julho de 2004 (10.697). Marinho procurou diminuir a importância dos números de julho registrados pelo Caged, que sinalizam redução do ritmo do crescimento do emprego com carteira assinada. O ministro preferiu ressaltar que, desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o saldo entre contratações e demissões é positivo em 3.252.485 postos de trabalho. A média mensal é de 104.919 empregos formais. Se em 2004, o saldo do emprego formal foi positivo em 1.523.276 postos, Marinho acredita que, neste ano, será possível chegar em aproximadamente 1,3 milhão. "A economia acena para um crescimento contínuo. Resta saber a velocidade, que será, certamente, menor que a do ano passado", afirmou. Nas suas previsões, Marinho disse que 2006 pode ter, para o emprego, o desempenho excepcional que 2004 registrou. "Estamos criando as bases para uma velocidade maior que a deste ano", justificou. Marinho negou que a meta de criar dez milhões de empregos no mandato do presidente Lula tivesse sido abandonada. Reconheceu a necessidade de geração contínua de empregos, crescimento e distribuição de renda no Brasil. "O que vai levar a um processo de consistência na economia é a ampliação da capacidade de produção", defendeu. Para isso, disse, é preciso investir em infra-estrutura, que é a base para novos empreendimentos dos empresários para alargar a capacidade instalada. O ministro do Trabalho voltou a criticar a taxa de juros, mantida, na quarta-feira, em 19,75% ao ano pelo Banco Central. Ele disse que é claro o efeito negativo na criação de empregos. "Estamos consistentes. Temos buracos no caminho e não podemos correr a 120 por hora. Temos de diminuir a velocidade. Mas a economia acena para um processo contínuo de crescimento", afirmou Marinho.