Título: Deputado cruza dados para provar existência do mensalão
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Política, p. A7

O cruzamento de dados do calendário político com as datas e valores do dinheiro liberado a parlamentares pelo publicitário Marcos Valério de Souza já traz indícios de que é mais numeroso o grupo de políticos a serem arrolados nas Comissões Parlamentares de Inquérito que apuram irregularidades no Congresso, acusou ontem o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). Sob protestos até de deputados de oposição, ele entregou ao presidente da CPI da Compra de Votos, Amir Lando, gráficos elaborados pelos técnicos do PSDB e listas de votações e de trocas de partidos por parlamentares. Os gráficos e dados, segundo Redecker, serão complementados pelos técnicos que ainda analisam os dados, e deverão justificar a acusação de que há mais deputados envolvidos no esquema do "mensalão", segundo o deputado, que fez a acusação durante o depoimento do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, à comissão. A lista fortalece o argumento de que o pagamento de dívidas de campanha eleitoral foi o motivo da entrega de dinheiro a parlamentares por Valério e seus auxiliares: os maiores fluxos de desembolso, em torno de R$ 6 milhões mensais só para o PT, são em fevereiro e abril de 2003, meses em que parlamentares estariam procurando o diretório nacional do PT em busca de ajuda para pagar pendências das campanhas. Após esses meses, o maior desembolso foi em julho de 2004, mês de recesso parlamentar e de início das campanhas municipais. Neste mês, saíram R$ 10,6 milhões das contas de Valério (a maior parte, R$ 5 milhões, ao PTB, como admitiu o deputado Roberto Jefferson). Há coincidência, porém, entre grandes desembolsos do esquema de Valério e datas de votações importantes no Congresso: a reforma da Previdência, a tributária, a Lei de Falências, com turnos de votação entre abril e setembro de 2003; e medidas provisórias de alteração do PIS/Pasep e Cofins, do adicional de frete da marinha mercante, a MP 144, com novas regras para o setor de energia, a lei de Biossegurança e a MP que antecipou o recolhimento da Cide (contribuição sobre comércio de combustíveis). Entre agosto e setembro de 2003, datas das votações mais importantes da lei de Falências e das reforma da Previdência e Tributária, as liberações de Valério chegaram a R$ 8,8 milhões, dos R$ 33 milhões desembolsados naquele ano. Em abril de 2004, logo após a votação de projetos de interesse do governo, como a Lei de Biossegurança, as MP dos Bingos e das alterações da regulamentação do setor elétrico, e as mudanças nos impostos indiretos, os desembolsos saltaram, de R$ 883 para R$ 4,7 bilhões. O PSDB quer provar que muitos dos parlamentares do PT e do PL, que receberam dinheiro de forma irregular eram políticos de outras agremiações, que se mudaram para a coligação governista exatamente nos meses de maior saída de dinheiro das contas de Valério.