Título: Governo cancela contrato com Duda Mendonça
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Política, p. A7

Crise Publicitário deu depoimento desfavorável ao presidente na CPI

A Secretaria Geral da Presidência da República decidiu ontem não renovar o contrato de publicidade com a agência de Duda Mendonça. O atendimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva será feito agora pelas duas outras agências do contrato: a Lew Lara e a Matisse. O contrato das três para prestar serviço institucional ao governo e ao presidente era de R$ 131 milhões anuais e o valor dividido de acordo com o trabalho desenvolvido. Desde agosto de 2003, a Duda Mendonça teria recebido R$ 113 milhões do Palácio do Planalto. Desde a quinta-feira da semana passada, quando Duda Mendonça prestou depoimento à CPI dos Correios, ministros e assessores avaliaram que o publicitário havia inviabilizado a renovação do contrato. A licitação e a assinatura do primeiro contrato com a agência aconteceu em agosto de 2003 e poderia ser renovado anualmente por quatro vezes sem necessidade de nova licitação. A revelação do publicitário à CPI dos Correios de que havia recebido, do PT, R$ 10,5 milhões de recursos não contabilizados em um paraíso fiscal, provocou o dia mais tenso no Palácio desde o início da crise. O marqueteiro teria avisado ao presidente o teor da declaração, mas, na avaliação de assessores, Duda teria passado do tom e tornado praticamente impossível mantê-lo como prestador de serviço ao presidente. O contrato com a Duda Mendonça, além das agências Lew Lara e Matisse, previa a criação de propaganda institucional do governo, como as prestação de contas de áreas, desde a economia até os programas sociais. O contrato também incluía o atendimento ao presidente, que era feito diretamente por Duda Mendonça. Ele era responsável pelos pronunciamentos em cadeia de rádio e TV, além da leitura de pesquisas de opinião e a criação da marca do governo. A relação entre o presidente e Duda Mendonça começou já em 1994, quando o publicitário tentou fazer a campanha, mas foi vetado pelo comando da campanha do PT por conta da proximidade dele com o ex-prefeito Paulo Maluf. Em 2002, o próprio candidato Lula impôs ao PT sua escolha. O fim do contrato de Duda Mendonça com a Presidência da República encerra um ciclo importante na área de comunicação do governo. A proximidade o credenciava a falar diretamente com Lula sem passar pelo ex-secretário de Comunicação, Luiz Gushiken. Muitas vezes, o próprio presidente fazia as ligações telefônicas para o publicitário sem passar pelas secretárias. O publicitário foi responsável também por propostas de campanha em 2002, que se transformaram em ações de governo, como a Farmácia Popular. Apesar da influência, assessores do presidente garantem que muitas ações atribuídas a Duda no governo devem ser creditadas à aura de mago da publicidade formada em torno dele. O publicitário não é o autor de alguns feitos atribuídos a ele, como a preparação do presidente na primeira entrevista coletiva em abril deste ano. A presença de Duda no Palácio tornou-se mais rara em 2005. Duda também tem contratos com a Petrobras e o Ministério da Saúde que poderão ser revistos.