Título: Merrill Lynch reafirma seu compromisso com o Brasil
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Finanças, p. C10

Estratégia Banco de investimento terá uma nova sede em São Paulo

"O Brasil é um mercado-chave para a Merrill Lynch. Não só em termos de América Latina, mas em termos mundiais também", disse ao Valor Jefferson Hughes, executivo responsável pela América Latina e Canada da Merrill Lynch, o maior banco de investimentos do mundo. Para reafirmar o compromisso com o Brasil, o banco está investindo em uma nova sede no país. Maior e bem mais caro que o tradicional escritório que a Merrill Lynch ocupou na Avenida Paulista por mais de 10 anos, a nova sede vai ficar em um edifício na Avenida Faria Lima, em São Paulo - o Faria Lima Business Center, bem próximo às sedes de outros concorrentes do banco, como o JP Morgan e o ING. Segundo Hughes, a mudança será em fevereiro de 2005. "Tivemos um excelente 2004 no Brasil e estamos nos preparando para um 2005 ainda melhor", disse o executivo ontem, durante passagem por São Paulo para visitar clientes do banco. Este ano, o Merrill Lynch foi o banco que mais liderou (considerando o ranking por volume de recursos) operações de venda de ações e captações externas de empresas brasileiras. Nas ações, a instituição intermediou a venda de US$ 1,85 bilhão em papéis, num total de cinco emissões (incluindo a abertura de capital da Gol e a da CPFL Energia). Hughes diz que o banco está em conversa com outras empresas e que novas emissões de ações vêm por aí. "O mercado está muito bom e o mais interessante é que as empresas que estão abrindo o capital são dos mais diferentes setores", diz. "O sucesso das emissões foi enorme, atraindo investidores locais e estrangeiros", completa. Para Hughes, um dos pontos que mais chamou atenção nos lançamentos recentes é que os estrangeiros que compraram os papéis são investidores globais, que buscam oportunidades no mundo todo e não apenas gestores interessados em papéis de mercados emergentes. "Foram compradores interessados nas empresas. Não foi dinheiro especulativo", diz. No mercado de dívida, a Merrill Lynch também é líder em volume emitido. O banco coordenou a colocação de US$ 8,2 bilhões, com um total de 28 emissões. O segundo lugar foi o Citigroup, com US$ 6,5 bilhões. Entre as principais emissões, Hughes refere-se à da Vale do Rio Doce, de US$ 500 milhões em bônus que vencem em 2034. "Foi a primeira captação na América Latina com um prazo tão longo", afirma. Na avaliação do diretor da Merrill Lynch, a forte procura por papéis brasileiros reflete a melhora dos indicadores do país. "O governo Lula está indo muito bem", afirma. Hughes prevê que a economia brasileira cresça 4,1% este ano. Para 2005, o crescimento será menor, de 3,2%, mas não por culpa do Brasil, e sim pela economia mundial, que tende a se desacelerar. O executivo prevê que a taxa de câmbio feche o ano em torno de R$ 2,95 e no final de 2005 esteja na casa de R$ 3,20. Para a inflação, a estimativa é que ela fique em 7,2% em 2004 e em 5,8% no próximo ano, permitindo uma Selic de 14,5% no mesmo período. Sobre o petróleo, ele prevê que as cotações fiquem em torno de US$ 50 a US$ 55 este ano, mas caiam para algo entre US$ 30 a US$ 35. Hughes não esconde o otimismo com o futuro do país. Para ele, vários fatores suportam sua visão. O primeiro é a forma como foi feita a transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para o governo Lula, mantendo a política econômica e criando condições para o crescimento sustentado. "Isso foi feito, em alguns momentos, em condições adversas da economia mundial." Outro fator é a afirmação política do país no cenário mundial, criando, por exemplo, o G-20, grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil.