Título: Para governo, proposta argentina fere Mercosul
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Brasil, p. A2

Uma proposta feita pela Argentina com o objetivo de formalizar a adoção de salvaguardas comerciais dentro do Mercosul está sendo avaliada pelo Brasil como nociva ao bloco, podendo prejudicar sua capacidade de negociação com outros blocos comerciais. Além disso, as medidas poderiam não surtir o efeito declarado de proteger a indústria local, beneficiando terceiros países. A idéia de criar instrumentos que permitam proteger setores de sua indústria local foi apresentada no início de setembro durante encontro em Brasília entre o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, e os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Em linhas gerais, o projeto se divide em três partes. O governo do país vizinho quer impor cotas para limitar o ingresso de produtos brasileiros no caso de haver forte "assimetria" de ciclos econômicos, como na crise de 2002. Outra reivindicação é proteger setores ante um surto de importações que possa causar dano à produção local, independentemente do comportamento dos ciclos econômicos. Por último, os argentinos querem criar regras para que os investimentos de empresas estrangeiras não se concentrem no Brasil. O Valor apurou que alguns setores do governo brasileiro avaliam que a proposta argentina contradiz as bases da união aduaneira, que deveria ir na direção da livre circulação de bens e, se colocada em prática, é um fator que pode abalar a credibilidade do Mercosul. Também preocupa a possibilidade de as travas ao comércio serem aproveitadas por provedores de terceiros países, como está ocorrendo com as geladeiras desde que Brasil e Argentina fecharam um acordo de restrição voluntária no comércio de eletrodomésticos.