Título: PSDB ajuda governistas a evitar convocações à CPI dos Correios
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Política, p. A8

A CPI dos Correios aprovou ontem uma nova convocação do pivô da atual crise política, o ex-chefe de departamento dos Correios, Maurício Marinho, flagrado por um vídeo ao receber R$ 3 mil de propina oferecida por supostos lobistas de empresas. Marinho fez diversos depoimentos ao Ministério Público onde teria reafirmado fazer parte de um esquema comandado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) para formar um "caixinha" do partido. "O depoimento dele é forte e precisamos reconvocá-lo", disse o relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR). A CPI pediu ao MP a cópia do depoimento de 50 páginas de Marinho. Um acordo tácito firmado ontem entre parlamentares governistas e o PSDB evitou a convocação imediata dos presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Sebrae, Paulo Okamotto, além do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, para depor na CPI Mista dos Correios. A manobra também permitiu adiar o depoimento do ex-ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, marcado para a próxima semana. Meirelles foi citado por Barcelona, condenado a 25 de prisão por evasão de divisas, por envio irregular de dinheiro ao exterior durante depoimento fechado à parlamentares da CPI na terça-feira, em São Paulo (SP). Ex-tesoureiro do PT, Okamotto assumiu, após um mês de negativas do Palácio do Planalto, ter pago do próprio bolso um empréstimo de R$ 29 mil feito pelo partido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gushiken é acusado de beneficiar as agências de Marcos Valério de Souza, considerado operador do pagamento do mensalão no Congresso, em contratos publicitários com o governo. Os três foram poupados da convocação por ampla maioria de votos, inclusive do relator. O PSDB ajudou diretamente, com o voto contra do senador Alvaro Dias (PR) à convocação de Barcelona, e também indiretamente, por meio da quase total ausência do plenário. O PFL, porém, bateu forte durante as votações, sobretudo quando os governistas conseguiram aprovar a transferência do depoimento de diversos personagens envolvidos em denúncias e indícios de corrupção para a CPI Mista do Mensalão. "Lá é a CPI do Abafão", reagiu o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). O PTB acompanhou: "Relator não pode votar. Tem que ser imparcial", acusou o deputado Arnaldo Faria de Sá (SP). "Sou contra trazer Okamotto por uma questão tão pequena e contra a precipitação de convocar Meirelles e Barcelona", disse Serraglio. Entre os nomes remetidos à outra CPI, está o do banqueiro Daniel Dantas, controlador da Amazônia Celular, Brasil Telecom e Telemig Celular, que depositaram R$ 127 milhões nas contas de Marcos Valério. Também estão o deputado José Mentor (PT-SP) e o deputado estadual cearense José Nobre Guimarães, irmão do ex-presidente petista José Genoino. Figuram ainda João Claudio Genu, ex-chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR), que sacou R$ 4 milhões das empresas de Valério, e José Carlos Batista, sócio da Guaranhuns, apontada pela CPI como ponte para lavagem de dinheiro no Uruguai. A oposição conseguiu manter os depoimentos de Genoino, do ex-secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, e do ex-diretor financeiro do DNIT, Sergio Pimentel. "Logo, logo, o Dantas virá aqui depor. Mandar para lá não significa esquecer", defendeu o relator Serraglio. A CPI aprovou ontem a convocação de três outros doleiros envolvidos em CPIs anteriores, como a do Banestado. São eles Alberto Youssef, Jader Kalid Antonio e Haroldo Bicalho. Também devem depor na CPI o ex-diretor comercial dos Correios, carlos Eduardo Fioravante, e Rubens de Castro Dourado, apontado como importante lobista que está preso em Campinas (SP). Os parlamentares aprovaram ainda a requisição de cópias de documentos e informações relativas às investigações, como o inquérito da Operação Anaconda da Polícia Federal; processo contra Toninho da Barcelona na Justiça Federal; conta de Marcos Valério no banco Merrill Lynch; viagens do tesoureiro informal do PTB Emerson Palmieri ao exterior; ata da reunião da empresa Telemar com a aprovação de compra de ações da empresa Gamecorp, do filho do presidente Lula, Fábio da Silva; explicações do embaixador em Portugal, Paes de Andrade, sobre os motivos do encontro de Marcos Valério com ministros do país; transações entre empresas de Valério e o PT desde 1994; operações do publicitário Duda Mendonça com a off-shore Agata International até hoje; livro de visitas ao doleiro Barcelona no presídio de Avaré (SP); documentos sobre quatro viagens de Fábio da Silva, filho de Lula, ao Japão.