Título: Ex-dirigente diz que Previ agiu sob pressão política
Autor: Cristiano Romero e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Política, p. A9

Em depoimento à CPI dos Correios, Henrique Pizzolato, ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ, afirmou que o fundo de pensão, ao tomar decisões na área de telecomunicação, agiu sob "pressão política" do governo. Segundo Pizzolato, que deixou o governo depois de ver seu nome envolvido no escândalo do valerioduto, o presidente da Previ, Sérgio Rosa, teria confessado a ele que sofreu pressão para tirar a Previ do bloco de controle acionário da Telemar, mantendo o fundo no bloco da Brasil Telecom (BrT) e da Telemig. No ano passado, como a Previ fazia parte do controle tanto da Telemar quanto da BrT, o que é vedado pela legislação, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidiu fixar prazo até março de 2006 para que o fundo optasse por uma das duas empresas. Segundo Pizzolato, que, além de presidir o conselho da Previ, era também o diretor de marketing do Banco do Brasil, a diretoria da Previ decidiu optar pela BrT e a Telemig, sem consultar o conselho. "Estudos internos da Previ apontavam que o melhor investimento era na Telemar. Liguei para o Sérgio Rosa para avisar que convocaria reunião do Conselho para discutir isso. O Sérgio pediu adiamento da reunião porque ia conversar com os ministros Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) e Antonio Palocci (Fazenda)", disse Pizzolato à CPI dos Correios. "Havia ingerência de Gushiken nos fundos de pensão." O ex-diretor do BB contou que, nesse momento, decidiu ter uma conversa particular com Sérgio Rosa. No diálogo, o presidente da Previ, de acordo com relato de Pizzolato, teria afirmado: "Estou sofrendo muita pressão política e não sei se vou suportar". "Ele pensou até em pedir demissão e eu disse que, se ele saísse, eu sairia junto", relatou o ex-dirigente da Previ. Ainda segundo Pizzolato, na reunião seguinte do Conselho Deliberativo, Rosa teria feito exposição sobre a decisão da Previ, explicando que havia três empresas interessadas na compra da Telemig - a Vivo, a Claro e a BrT. "A Previ tinha interesse em vender, mas quem comprasse não levaria o controle", teria argumentado Sérgio Rosa, acrescentando que o presidente da Previ teria dito que a decisão era transitória e tinha o objetivo de equacionar questões legais (as exigências da Anatel), enquanto avançavam outras negociações. O problema, disse Pizzolato em seu depoimento, é que pouco depois o Conselho Deliberativo foi novamente surpreendido pela diretoria da Previ. "Repentinamente, soubemos pela imprensa, por um fato relevante publicado pelo Citigroup, do acordo de venda conjunta de ativos com o Citi (o acordo de 'put')", relatou o ex-diretor do BB. Pelo contrato, suspenso na quarta-feira pelo Tribunal de Contas de União (TCU) até que seu mérito seja analisado e julgado, a Previ comprará as ações do Citi na BrT e na Telemar, se até 2007 ambos não venderem de forma conjunta suas participações acionárias. O valor da compra foi fixado no contrato em R$ 1 bilhão para os ativos do Citi na BrT (ágio de 304% em relação ao valor atual em bolsa) e R$ 296 milhões para as ações na Telemar. "Liguei para o Sérgio Rosa para questioná-lo e ele me disse que o acordo foi feito em caráter sigiloso. Até hoje não recebi cópia do acordo", afirmou Pizzolato, que teria ainda procurado o presidente do BB, Rossano Maranhão, para falar do contrato com o Citi. Em entrevista ao Valor, Rosa explicou que o acordo com o Citi tem cláusula de confidencialidade e, além disso, como o valor da operação é inferior a 5% do patrimônio do fundo, a diretoria não precisaria consultar o Conselho Deliberativo. "Consideramos o valor do contrato muito alto e ele ainda embute um risco cambial. Além disso, o indexador utilizado (o IGP-DI) não é o da Previ (IPC). Há ainda correção de 5% ao ano", queixou-se Pizzolato diante da CPI. "Não pode ser imputada responsabilidade ao Conselho Deliberativo sobre esse contrato." O ex-diretor do BB criticou também o fato de a Previ ter contratado a Angra Partners para assessorá-la nos entendimentos com o Citigroup. "Há pessoas no Angra que tinham tido vínculo empregatício com o banco (o Citi)", disse Pizzolato. Ele contou ainda que, em meio à polêmica do contrato com o banco americano, os conselheiros da Previ teriam recebido uma "ameaça" da diretoria. "Era uma contradição: se o Conselho não referendar, não optar pela Telemig, os associados (da Previ) vão dizer que o Conselho está a favor do Opportunity (do empresário Daniel Dantas)", contou Pizzolato. De acordo com o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), "aceito a hipótese de que o Gushiken tinha influência nos fundos de pensão. Vinha um prato feito e as decisões do Conselho não eram respeitadas. No nível de influência que foi posto aqui, talvez haja irregularidades" A oposição quer usar o depoimento de Pizzolato para convocar Gushiken. A CPI vai começar a analisar agora o possível envolvimento dos fundos de pensão no valerioduto. Hoje, o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), criará a sub-relatoria de fundos e nomeará o deputado ACM Neto (PFL-BA) para chefiá-la. (CR e MZ)