Título: Pizzolato omite informações e irrita CPI
Autor: Cristiano Romero e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Política, p. A9

Crise Ex-diretor de marketing do BB e ex-presidente do Conselho da Previ diz ter sido vítima de uma cilada

Acusado de ter recebido R$ 327 mil do valerioduto, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, irritou ontem os parlamentares que assistiram a seu depoimento na CPI dos Correios. Pizzolato, que deixou o BB e a presidência do Conselho Deliberativo da Previ, a fundação de previdência do Banco do Brasil, negou envolvimento em corrupção e sustentou, ante uma platéia incrédula, que foi vítima de uma cilada. "Eu não sabia que era dinheiro. Fui usado", disse ele sobre o envelope, contendo R$ 327 mil em espécie, entregue a ele em janeiro de 2004 por Luís Eduardo Ferreira da Silva, contínuo da Previ. Duda, como é conhecido o contínuo, sacou o dinheiro de uma agência do Banco Rural no centro do Rio. "Eu não sabia que era o Banco Rural. Soube na imprensa", disse Pizzolato. O ex-diretor do BB, que antes de depor na CPI tentou, em vão, conseguir um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, disse que, embora tenha trabalhado no comitê financeiro da campanha do presidente Lula, em 2002, jamais arrecadou recursos. A parte de seu depoimento que gerou maior interesse foi quando ele falou dos fundos de pensão. "(Pizzolato) Deixou muito a desejar. Poderíamos ter aproveitado melhor a nossa tarde. Foi econômico demais, o que tem sido comum. Quando não se mente, se omite", disse o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral. "É importante na medida em que traz questões específicas dos fundos de pensão. Há suspeitas de que, para compensar empréstimos, alguns fundos poderiam ter investido nos bancos." Pizzolato repetiu na CPI o depoimento que deu à Polícia Federal no início do mês. Ele disse que recebeu telefonema de um executivo da agência de publicidade DNA - à PF, ele afirmou que foi Francisco Castilho, sócio do empresário Marcos Valério na agência; ontem, ele sustentou que não se lembrava de quem lhe telefonou -, solicitando que recebesse um documento em sua casa e o entregasse a uma "pessoa do PT". Essa pessoa foi à sua casa pegar o dinheiro, sem que ele se lembre mais de seu nome. "Eles me passaram o nome de uma pessoa que eu não me lembro", afirmou Pizzolato. "Eu estava atento aos meus estudos da pauta da (reunião da) Previ." Um mês depois de o contínuo ter entregue os R$ 327 mil, ele comprou apartamento no Rio por R$ 400 mil. Segundo o ex-dirigente do BB, o apartamento foi adquirido por dinheiro de aplicações e com a venda de dólares que vinha juntando para viagem ao exterior. Pizzolato disse que, embora tenha trabalhado no comitê financeiro da campanha do presidente Lula em 2002, jamais arrecadou recursos. Sua função foi a de organizar eventos com empresários para apresentação do programa de governo do PT. Ele sustentou que, na campanha, não se encontrou com o chefe da campanha, o ex-ministro José Dirceu. "O Zé Dirceu era inacessível. Ele ficava em outro andar e nós, no térreo." Sobre os gastos com vinhos e sites pornográficos registrados na fatura do cartão corporativo que tinha no Banco do Brasil, Pizzolato negou que tenha usado o cartão para acessar material pornográfico e justificou os gastos com vinhos, dizendo que é "presente corporativo". Por causa das evasivas de Pizzolato, Delcídio acha que ele sabe muito mais do que falou. Senadores e deputados que ouviram o depoimento desacreditaram em tudo o que falou sobre seu envolvimento com Marcos Valério e a DNA, agência que Pizzolato contratou para prestar serviços publicitários ao BB.