Título: Cúpula manobra para forçar a saída
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Política, p. A10

Na hipótese de o ex-ministro José Dirceu se recusar a deixar a chapa do campo majoritário ao Diretório Nacional do PT, os atuais dirigentes partidários pretendem forçá-lo a sair. Na realidade, a intenção é afastar, além de Dirceu, todos os candidatos que tiverem recebido recursos do empresário Marcos Valério, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e o ex-líder do governo na Câmara deputado Professor Luizinho (SP). A idéia dos atuais dirigentes é fazer uma consulta por correio eletrônico aos demais integrantes da chapa. Tanto o presidente Tarso Genro (RS) como o secretário-geral Ricardo Berzoini (SP) estão convencidos de que terão maioria de respostas favoráveis ao afastamento de Dirceu e dos outros deputados. Avaliam que eles estariam isolados dentro do partido. Dirceu pensa exatamente o contrário e faz sua própria consulta. Na avaliação da atual cúpula do PT, Tarso deve contar com o apoio de cerca de dois terços do campo majoritário, o grupo controlado por José Dirceu e que até agora deu as cartas no partido. Acreditam que as vitórias até agora conseguidas por Dirceu, em reuniões do diretório e da Executiva Nacional, deve-se muito mais a uma conjugação de fatores do que propriamente à força do ex-ministro. A aproximação de Tarso com as esquerdas e suas críticas à política econômica seriam o exemplo perfeito e acabado. Isso teria levado grupamentos importantes do campo majoritário a votar contra propostas do ex-ministro da Educação. O grupo ligado à ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, por exemplo, que resiste a qualquer questionamento crítico da política econômica desenvolvida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Na tentativa de dividir o campo majoritário e isolar definitivamente o ex-ministro, Tarso tem procurado compor com prefeitos e governadores do partido, como Marcelo Déda, de Sergipe, e Jorge Viana, do Acre. O ex-ministro da Educação espera contar também com o apoio do senador Aloizio Mercadante (SP), que vê na reformulação do PT a possibilidade de manter suas chances na disputa pelo governo de São Paulo, nas eleições de 2006. De acordo com dirigentes petistas ouvidos pelo Valor, Dirceu resiste à sugestão de afastamento, feita por Tarso em reunião na tarde de quarta-feira passada, na expectativa de chegar a outubro, quando o processo de sua cassação deve chegar ao plenário, escorado pelo partido. Se sair agora, chegaria à votação enfraquecido, com chances reduzidas de negociar sua situação. Na avaliação de dirigentes da sigla, Dirceu quer se manter na estrutura partidária, mesmo que não venha a disputar eleições no futuro próximo, na expectativa de se tornar uma espécie de Orestes Quércia do PT: há anos não tem um cargo público, mas controla com mão de ferro o diretório regional do PMDB. Integrantes da chapa de Tarso descartam a hipótese de ele desistir de concorrer. "Agora é Tarso ou Tarso", disse um dirigente. Candidato à presidência do PT pela Articulação de Esquerda, Valter Pomar também descarta qualquer tipo de apoio de Dirceu à sua chapa. "Não temos acordo. Brigo com ele desde 1993 e não nos falamos desde que Jefferson fez as denúncias"