Título: Garotinho corteja líderes e tenta fincar raízes em SP
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Especial, p. A14
Fincar raízes em São Paulo será um dos objetivos estratégicos do secretário de Governo do Rio e ex-governador Anthony Garotinho para tentar viabilizar a sua candidatura presidencial pelo PMDB. O ex-governador pretende estar pelo menos uma vez por semana no Estado. "São Paulo é o maior colégio eleitoral do País, é a maior economia e o reduto dos principais adversários", explicou. Ontem, o ex-governador esteve na cidade para o aniversário do ex-governador Orestes Quércia, presidente regional da sigla. Terceiro colocado nas pesquisas presidenciais, Garotinho ainda não tem o apoio dos dirigentes pemedebistas que estão distantes do Palácio do Planalto, sobretudo dos governadores da sigla. Conseguir uma aliança com estes setores é fundamental para concorrer no próximo ano. "Meu objetivo é procurar ligar as bases históricas do partido com a minha candidatura. Reconheço que não tenho tradição no PMDB", disse. Candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2002 pelo PSB, Garotinho entrou no partido no ano seguinte. Nos últimos dias, Garotinho esteve no Rio Grande do Sul e no Paraná, governado pelos pemedebistas Germano Rigotto e Roberto Requião. Sem condições de assegurar sua candidatura até 30 de setembro, prazo final para troca de filiação partidária visando as eleições de 2006, o ex-governador afirma que optou por ficar no partido mesmo assim. "Não há nenhuma possibilidade de eu trocar de partido, porque quero concorrer para ganhar e só o PMDB tem espaço na televisão e estrutura para isso", disse. Embora as pesquisas apontem sua candidatura oscilando entre 12% e 14% de intenções de voto, abaixo dos 18%¨que obteve em 2002, o pemedebista está otimista com o quadro do próximo ano. "Ao manter a política econômica do governo passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ajudar a quebrar a polarização entre PT e PSDB. O eleitor vai procurar uma candidatura que represente uma alternativa. Vou para o segundo turno e tucanos e petistas disputam a outra vaga", disse. Garotinho não acredita na saída de Lula do cenário eleitoral do próximo ano. "Existem fatos para abrir um processo de impeachment contra Lula, mas a sociedade não está mobilizada neste sentido e o presidente joga com isso. Mesmo muito desgastado, ele vai ser candidato para tentar resgatar o PT do naufrágio, como já fez antes de ser eleito presidente", disse. Garotinho pretende estruturar sua candidatura à esquerda da atual política econômica. Recebeu um esboço de programa de governo elaborado por uma equipe de economistas do partido, composta entre outros pelo ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, de caráter nacionalista e intervencionista. Segundo o ex-governador, o controle da entrada e saída de capital será uma das primeiras medidas para a guinada que promoveria na economia. O controle, de acordo com o Garotinho, seguiria o modelo chileno, sem retroatividade, preservando da nova regra capitais já investidos. Outro passo seria "a redução ou eliminação dos superávits primários", segundo afirmou. O Banco Central perderia a autonomia informal com que comanda hoje uma política de juros altos. A instituição seria reformulada, para que o setor produtivo e "forças políticas regionais" passassem a participar da definição das metas de inflação e das taxas básicas de juros. O novo BC teria o compromisso ainda de defender metas de crescimento e de geração de empregos. Segundo Garotinho, a taxa de câmbio não iria mais flutuar livremente. "Haveria uma administração do câmbio para o equilíbrio das contas externas", disse. Para o controle da inflação, o ex-governador sugere um pacto social para garantir a estabilidade de preços. "Não há porque o mercado temer a minha candidatura, porque este programa é claro, com linhas bem definidas, que talvez não agrade a alguns, mas não enganará a ninguém", disse. O ex-governador admite que uma plataforma destas pode levar a uma grande instabilidade financeira , com a piora dos indicadores econômicos, caso se constate que a possibilidade de vitória do pemedebista é concreta. "Creio que todo País que quer fazer mudanças profundas , benéficas, duradouras, passa por um momento difícil. O mais importante é que com a eliminação deste superávit primário que hoje consome cerca de R$ 80 bilhões , poderia haver a aplicação destes recursos naquilo que é fundamental para uma nova etapa da vida brasileira, uma plataforma para a infra-estrutura".