Título: Corrida por contratos milionários
Autor: André Vieira e Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Empresas &, p. B1

Software Petroquímicas abrem concorrência e esquentam briga entre a SAP e a Oracle

As empresas petroquímicas brasileiras estão atualizando suas ferramentas de administração, provocando uma corrida entre as fornecedoras de softwares por contratos milionários. A Petroflex, maior fabricante brasileira de borracha sintética, anunciou que irá concluir a primeira fase de implantação do novo sistema de gestão no dia 1º de setembro. A alemã SAP e a americana Oracle concorreram pelo contrato da companhia, orçado em US$ 7,1 milhões. A companhia alemã bateu a americana. Agora, as duas fornecedoras de software são finalistas numa disputa ainda mais valiosa, o contrato da Braskem, a maior petroquímica latino-americana, avaliado em R$ 150 milhões. A cifra coloca o projeto como um dos mais vultosos já realizados no país e provavelmente o maior em andamento no Brasil. Esse tipo de software permite automatizar as funções como contabilidade, controle de estoque e folha de pagamento - os chamados ERPs. Em muitos casos, tratam-se de contratos de suporte, manutenção ou instalação de novos módulos em sistemas já existentes. Na cadeia produtiva do setor, o contrato da Braskem só perde para o recém-instalado sistema da Petrobras, que recebeu investimentos de US$ 240 milhões em cinco anos - o maior da história da América Latina. "Até o fim de agosto, vamos tomar a decisão sobre a escolha do programa", anunciou o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, quando divulgou os resultados da companhia. A intenção da empresa, formada por meio da união de vários ativos petroquímicos três anos atrás, é "melhorar a qualidade da gestão, com a simplificação e padronização dos métodos", nas palavras do executivo. Em 2004, a venda de sistemas de gestão empresarial para o setor de óleo e gás movimentou cerca de US$ 21 milhões em licenças de software no Brasil, ou 7,4% do mercado total de US$ 283 milhões. Nos projetos desse tipo, entretanto, as licenças não são o maior componente. O montante de serviços - instalação, treinamento e suporte - costuma superar em muitas vezes o valor do software. Luis Cesar Verdi , diretor comercial da SAP, afirma que, juntos, os setores de óleo e gás e petroquímico representam 20,4% da receita da subsidiária brasileira da fornecedora de sistemas. Entre os clientes estão Shell e Texaco - que atualmente instala a parte brasileira de um sistema mundial -, além da Petrobras. "Há pelo menos três empresas de distribuição de combustíveis que avaliam a compra de ERPs neste momento", conta Verdi. O diretor de vendas da rival Oracle, João Bosco Fernandes Junior, afirma que a fornecedora atende os segmentos de óleo e gás e petroquímica com todas as suas linhas de produtos. "É um setor de extrema relevância. Temos 160 clientes dessa área no mundo", diz. "É um mercado que está aquecido no Brasil. Empresas privadas e públicas estão coletando propostas." Depois da privatização nos anos 90, o setor petroquímico reorganizou seus ativos e busca formas de melhorar a gestão. Os subseqüentes movimentos de consolidação aprofundaram ainda mais esse processo. Foi o que aconteceu com a Braskem. Criada em 2002 com a fusão da OPP Química, Trikem, Copene, Proppet, Polialden e Nitrocarbono, a companhia logo se viu às voltas com um sério problema de tecnologia. Cada uma das seis empresas que originaram a Braskem possuía softwares diferentes, que não conversavam entre si ou eram redundantes. No total, a companhia nasceu com um emaranhado de 200 sistemas, incluindo quatro pacotes de gestão empresarial. Nos dois anos seguintes a sua formação, a Braskem investiu na integração de sistemas e na instalação de um ERP da marca Baan. A escolha esbarrou em um problema: em junho de 2003, a Baan foi adquirida pela SSA e surgiram dúvidas sobre a evolução tecnológica do produto. Atualmente, SAP e Oracle dominam os grandes projetos de sistema empresarial em todos os segmentos - e o petroquímico não é exceção. Para a Petroflex, o que diferenciou uma proposta de uma empresa da outra foi a política comercial. "Com o desenho pronto do que queríamos e com as duas empresas finalistas, o que determinou a escolha foi a negociação comercial", afirmou o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Luiz Carlos Lopes. A Petroflex substituirá o programa atual, da brasileira Datasul, pelo da SAP, começando a integrar toda a sua estrutura industrial - que conta com fábricas em três Estados -, além da administração e de seus escritórios comerciais no exterior. Para a instalação do sistema, a empresa vai paralisar suas atividades, exceto a produção industrial, a partir do dia 25, com a previsão de volta à normalidade no dia 1º de setembro. "Apesar do expertise técnico, a complexidade da transição provocará descontinuidade de rotinas administrativas", disse a empresa. A Petroflex não revelou suas previsões sobre o ganho com a adoção da ferramenta de gestão. "Mas temos uma estimativa que deve ser superada. Vamos pagar facilmente o retorno deste investimento", disse Lopes.