Título: Exportação empurra saldo da conta externa para recorde de US$ 2,59 bi
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Finanças, p. C1

Balanço de Pagamentos Superávit apurado em julho é o maior já registrado desde 1947

O saldo na conta corrente externa do país voltou a surpreender o Banco Central em julho, batendo novo recorde e interrompendo a tendência de queda dos dois meses anteriores. O superávit somou US$ 2,592 bilhões em julho, o valor mais elevado já registrado nas estatísticas, que começam em 1947. O resultado equivale a mais que o dobro do US$ 1,2 bilhão projetado pela autoridade monetária para o período. Os dados do balanço de pagamentos de julho praticamente sepultam o diagnóstico traçado pelo BC para este ano de queda na demanda externa. A conseqüência prática desses saldos alentados é uma maior abundância de dólares no mercado de câmbio. Em dezembro de 2004, quando fez suas projeções, a autoridade monetária antevia um superávit em conta corrente de apenas 0,54% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2005, bem abaixo dos 1,94% do PIB verificados um ano antes. Essa projeção se torna cada vez mais improvável, considerando que o saldo em conta corrente acumulado em 12 meses, que recuara durante dois meses, subiu de 1,86% para 1,94% do PIB de junho a julho. O BC não descarta elevar suas previsões. "É bem provável que a projeção para o ano seja de um saldo um pouco maior", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "O saldo comercial está mais forte do que esperávamos." Para agosto, o BC projeta US$ 1,4 bilhão. É exatamente a balança comercial que explica o desempenho acima do esperado na contas corrente externa. As despesas líquidas com serviços e rendas têm ficado dentro do previsto - e até maior que o esperado em alguns itens, como remessas de lucros e dividendos. Conservador, o BC trabalha com uma projeção de saldo de US$ 30 bilhões na balança comercial (o consenso de mercado é US$ 39,5 bilhões). Os números acumulados de janeiro a julho somam US$ 24,679 bilhões. O saldo comercial é mais do que suficiente para cobrir as despesas líquidas com serviços e rendas no período - US$ 18,787 bilhões -, rubrica estruturalmente deficitária. Com US$ 1,984 bilhão em transferências unilaterais (dinheiro remetido ao país por residentes no exterior, sem relação financeira ou comercial), o saldo em conta corrente no ano chega a US$ 7,876 bilhões. Pelas projeções do BC, esse saldo definharia até o fim do ano, até chegar a US$ 4 bilhões. O mercado considera improvável esse cenário, e trabalha com um saldo de US$ 11 bilhões. O superávit recorde em julho se deve, mais uma vez, ao saldo comercial acima do previsto, com US$ 5,012 bilhões. O valor foi mais do que suficiente para cobrir a expansão de 47,95% nas despesas líquidas com serviços, de US$ 438 milhões para US$ 648 milhões, na comparação entre julho de 2005 e 2004. E cobriu também a expansão de 38,02% no gasto com rendas (juros e dividendos), que passou de US$ 1,502 bilhão para US$ 2,073 bilhões no período. As transferências unilaterais subiram de US$ 282 milhões a US$ 301 milhões. Nos serviços, o destaque negativo é o turismo. O real mais forte e o aumento da renda fizeram o déficit crescer de US$ 25 milhões para US$ 188 milhões, sempre na comparação julho de 2005 e 2004. Nas remessas de rendas, os pagamentos de juros da dívida externa cresceram 34,72%, de US$ 1,037 bilhão para US$ 1,397 bilhão; e as remessas de lucros de dividendos, 43,37%, de US$ 475 milhões para US$ 681 milhões.