Título: Esvaziado, pregão viva-voz da Bolsa chega ao fim no dia 29 de setembro
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Finanças, p. C2
O tradicional pregão viva-voz da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vai acabar. O último dia de negociação será dia 29 de setembro, conforme decisão do conselho de administração da Bovespa, que se reuniu na última terça-feira. Este mês, a Bovespa completa 115 anos. Na prática, o pregão viva-voz (um símbolo da Bovespa, sempre mostrado nos noticiários quando o assunto era mercado financeiro) já vinha perdendo negócios há alguns anos. Com a introdução do sistema eletrônico as operações foram migrando para os computadores e a corre-corre das rodas de negociação foi se esvaziando. No pregão de ontem, por exemplo, 99,97% dos negócios foram feitos no eletrônico. No viva-voz, houve apenas 67 operações, praticamente nada perto das 55.205 transações do dia, números não muito diferentes dos pregões anteriores. O pregão físico movimentou apenas R$ 33,2 mil ontem, também insignificante quando comparado com o volume de R$ 1,3 bilhão girado ontem. No viva-voz eram negociadas apenas algumas ações: Petrobras, Vale do Rio Doce, Telemar, Tele Norte Leste, Bradesco, Itaú, Cemig e Eletrobrás. Além disso, também são realizados leilões (de ações, termo e opções). Atualmente, os operadores que trabalham lá oscilam entre 40 e 50 pessoas. Nos áureos tempos do viva-voz, quase mil operadores chegaram a trabalhar no pregão, a ponto de a bolsa pensar em construir um prédio na Marginal Pinheiros, que teria espaço maior. No local do pregão, a bolsa estuda criar um espaço para eventos, onde seriam realizadas, por exemplos, exposições. A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) já tem um espaço semelhante. O sistema eletrônico surgiu na Bovespa em 1990, com a adoção do Computer Assisted Trading Sistem (Cats). Em 1997, foi implantado um sistema mais eficiente e avançado, o Mega Bolsa, em uso até hoje. O Valor ouviu alguns antigos corretores e todos concordaram que hoje, com o crescimento dos negócios na Bovespa, o pregão viva-voz não conseguiria sozinho suportar o volume das operações. Um dos corretores lembrou que, quando não havia o sistema eletrônico, as transações batiam em no máximo 20 mil. Hoje, em média, são 60 mil negócios por dia. "Hoje, manter operadores no viva-voz é ineficiente, tanto financeiramente quanto operacionalmente", disse um corretor. Os dados da Bovespa confirmam o crescimento das operações. O volume médio de negócios na Bovespa este ano é de R$ 1,5 bilhão. Em 1994, era de R$ 234 milhões. A média de operações é de 60,3 mil, seis vezes acima do que era em 1994 (10,2 mil). Além disso, os corretores lembraram que, principalmente nas bolsas de valores européias, já não há mais pregão viva-voz. O presidente da bolsa, Raymundo Magliano Filho, já havia anunciado no início do ano que o viva-voz seria encerrado até o final de 2005. Na terça-feira, porém, chegou-se a data final. Os operadores são funcionários das corretoras, e não da Bovespa. Os corretores ouvidos pelo Valor disseram que, ao longo dos últimos anos, parte dos operadores do viva-voz fizeram cursos e aprenderam a operar o Mega Bolsa. Outros operadores foram absorvidos pelo programa de popularização do mercado de capitais, lançado por Magliano, e trabalham nas atividades da bolsa para divulgar o mercado pelo Brasil.