Título: BNDES tem lucro histórico de R$ 1,83 bi no 1º semestre
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Finanças, p. C8

Balanço Ganho com dividendos em empresas garantiu resultado recorde

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fechou o primeiro semestre do ano com um lucro líquido de R$ 1,831 bilhão, um recorde histórico, como destacou o presidente do banco, Guido Mantega. O ganho foi 30% acima do obtido em igual período do ano passado e superou todo o de 2004, de R$ 1,498 bilhão. Mas a cifra poderia ter sido ainda maior, de R$ 2,2 bilhões, caso a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não tivesse determinado à instituição reduzir do seu resultado R$ 438 milhões obtidos com a conversão de debêntures da Vicunha Siderurgia em ações da CSN, como admitiu o diretor financeiro Carlos Kawall. Os números divulgados ontem informam que o lucro do BNDES no semestre foi sustentado mais uma vez por um expressivo rendimento líquido, da ordem de R$ 716 milhões, da sua carteira de renda variável, decorrente de pagamento de dividendos, juro sob capital próprio e equivalência patrimonial de grandes empresas onde o banco tem participação, como Vale do Rio Doce, Petrobras e Copel. As operações de empréstimo, de renda fixa, incluindo Finame, responderam por R$ 611 milhões líquidos livres de impostos. No período, o banco desembolsou R$ 20 bilhões para financiamento de projetos, ficando ainda aquém do orçamento de R$ 60,8 bilhões. Mantega previu, porém, que até dezembro o BNDES deverá liberar cerca de R$ 50 bilhões, valor acima dos R$ 40 bilhões de 2004. "Estou confiante no ritmo dos investimentos." O balanço registrou ainda uma recuperação de crédito provisionado de R$ 200 milhões e computou uma despesa com provisão para contingências de R$ 344 milhões. Kawall explicou que o BNDES optou por não republicar o balanço do primeiro trimestre, mantendo o resultado de R$ 1,41 bilhão, apesar da operação de conversão de debêntures da Vicunha Siderurgia ter ocorrido naquele período. Na ocasião, o banco chegou a anunciar este valor e depois voltou atrás e comunicou lucro menor, de R$ 1 bilhão, mas sem ter ainda a palavra final da CVM. Segundo Kawall, no momento em que a CVM decidiu que o banco deveria contabilizar esta operação pelo custo de aquisição e não pelo valor das ações, foi feita uma opção pela correção no resultado do segundo trimestre, com a dedução dos R$ 438 milhões obtidos com a conversão das debêntures. "Tivéssemos esta informação (da CVM) antes e teríamos feito a correção no primeiro trimestre e, neste caso, o lucro do primeiro trimestre teria sido de cerca de R$ 900 milhões e o do segundo trimestre de R$ 900 milhões. Mas, optamos por não republicar o balanço do primeiro trimestre. A maneira de resolver isso foi fazer uma redução no lucro do segundo trimestre, que ficou em R$ 831 milhões, embora o evento tenha ocorrido no primeiro trimestre. Mas, fizemos tudo dentro das normas contabéis e da visão dos auditores", destacou. "Nunca houve nenhum interesse do BNDES em divulgar um lucro maior e com a maior tranqüilidade fizemos essa correção, após manifestação da CVM", completou. Kawall comentou ainda outros dados do balanço da instituição, como a contribuição da qualidade da carteira de crédito do BNDES, para o bom resultado do balanço semestral. O índice de inadimplência chegou a 0,57% da carteira total, ante 0,91% no mesmo período de 2004. A inadimplência média no sistema financeiro nacional de 5,7%. O BNDES exibiu ainda no primeiro semestre uma adequação de capital (Índice de Basiléia) de 17%, bem acima do índice exigido pelo Banco Central, de 11%. O patrimônio líquido (PL) do banco, no período, atingiu R$ 15,065 bilhões, ante R$ 14,115 bilhões no fim de 2004, alcançando uma rentabilidade de 25,10%. Mas, a evolução do PL encolheu ante o do primeiro trimestre, de R$ 15,529 bilhões, por conta do pagamento de dividendos do lucro do ano passado ao Tesouro, contou Kawall. Os ativos totais somaram R$ 164,5 bilhões, dos quais 74,8%, ou R$ 123,1 bilhões, oriundos da carteira líquida de financiamentos e repasses. Em junho, o saldo da provisão para risco de crédito atingiu R$ 4,5 bilhões, ou 618% da carteira de créditos inadimplentes. Mantega espera que este ano possa incorporar o lucro do BNDES ao seu patrimônio líquido para somar no esforço de capitalização do banco. O PL atingido no primeiro semestre informa um patrimônio de referência da instituição no patamar de R$ 22,5 bilhões. Isso melhora as condições para ampliar o limite de 25% do patrimônio de referência para financiar grandes empresas. O BNDES, como relatou, não conseguiu incorporar seu lucro de 2004 ao seu patrimônio líquido, tendo de pagar R$ 1 bilhão de dividendos ao governo para engordar o superávit primário. Mantega contou que continua negociando com o Tesouro a ampliação do percentual de recursos do FAT - hoje limitados a 50% do valor do PL do banco - na composição do patrimônio de referência da instituição. "Espero que consigamos", disse.