Título: Juros afastam BC e Fazenda
Autor: Cristino, Vânia; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2010, Economia, p. 18

Mantega critica o custo excessivo dos empréstimos bancários. Meirelles rebate: a taxa Selic, que deve subir no fim deste mês, foi importante para manter a inflação sob controle, preservar o poder de compra da população e garantir o crescimento sustentado do país

A duas semanas de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) dar início ao quarto ciclo de aumento dos juros no governo Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, partiu para cima dos bancos brasileiros, aos quais acusou de cobrar alto demais nos empréstimos e nos financiamentos concedidos aos consumidores e às empresas. Segundo ele, apesar de o custo do dinheiro ter cedido um pouco nos últimos anos, é preciso que as instituições acelerem a redução do spread ¿ diferença entre o que pagam aos investidores e o que recebem dos devedores. Boa parte desse spread garante os lucros do sistema financeiro. Ao se referir aos juros, Mantega foi taxativo: ¿Poderiam ser menores¿.

Na avaliação do ministro, que participou de audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as causas da elevada dívida do governo, a demora dos bancos em diminuir o custo do crédito é decorrência da oligopolização (concentração) do setor financeiro brasileiro ¿ os seis maiores bancos dominam mais de 80% dos empréstimos e financiamentos. ¿Falta concorrência¿, disse. A situação só não é pior, segundo Mantega, devido à atuação dos bancos públicos, que, ao longo do período mais crítico da crise mundial, ampliaram maciçamente a oferta de crédito no país.

Presente na mesma reunião, o presidente do BC, Henrique Meirelles, minimizou as críticas, numa clara tentativa de tirar o foco sobre o Copom, que vem sendo bombardeado pelo mercado e por integrantes do governo. Ao se referir à taxa básica (Selic), que serve de parâmetro para a composição de todos os juros de empréstimos, afirmou não ver nada de excessivo. A seu ver, a política monetária conduzida pelo BC tem sido fundamental para livrar o país de surtos inflacionários e garantir o poder de compra da população e o crescimento sustentado. A Selic está em 8,75% ao ano, uma das maiores taxas praticadas no mundo e, pelas projeções dos analistas mais pessimistas, deve avançar até os 13%.

As posições diferentes entre Meirelles e Mantega mereceram comentários jocosos por parte dos deputados presentes na CPI. Coube ao ministro responder a provocação de que ele e o presidente do BC batem cabeça quando o assunto é a taxa de juros. ¿Não bato cabeça com o Meirelles, mesmo porque isso é pouco recomendado. Haveria dano, uma vez que não temos nenhuma proteção¿, disse, referindo-se à careca que ambos ostentam.

Não bato cabeça com o Meirelles, mesmo porque isso é pouco recomendado. Haveria dano, uma vez que não temos nenhuma proteção¿