Título: Ministro pensou em afastar-se
Autor: Arnaldo Galvão, Maria Lúcia Delgado e Cristiano Ro
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Política, p. A4

O ministro Antonio Palocci conversou, por telefone, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco antes da entrevista coletiva que concedeu ontem. Na conversa, colocou o cargo à disposição, mas ouviu do presidente que deveria permanecer no posto. Um dia antes, em encontro com assessores, Palocci aventou a possibilidade de deixar o cargo temporariamente, até esclarecer as acusações feitas por Rogério Buratti. Na noite de sábado, o ministro estava inclinado a pedir uma licença temporária para se defender, como fez, no governo Itamar Franco, o então ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves. "Não seria o caso. Aquele processo foi diferente. O que está em jogo é a sobrevivência do governo e não apenas a de Palocci", comentou um ministro. "Isso não vai parar enquanto não acabarem com o PT", sustentou o ministro. Com seus assessores, Palocci discutiu todas as possibilidades. Com o presidente, procurou apenas deixá-lo à vontade para tomar uma decisão sobre seu destino. O diálogo com Lula começou formal, mas terminou de forma descontraída. O presidente renovou a confiança no ministro e queixou-se da maneira como o Ministério Público (MP) de São Paulo conduziu o caso. No governo, desconfia-se do envolvimento do secretário de Segurança Pública do governo paulista, Saulo de Castro Abreu Filho, na atuação do MP. Saulo é pré-candidato do PSDB ao governo paulista em 2006. Ontem, o Palácio do Planalto tinha a informação de que o secretário de Segurança Pública teria ajudado a divulgar, à imprensa, as fitas de vídeo com o depoimento dado por Buratti aos promotores em Ribeirão Preto (SP). Apesar disso, a cúpula do governo Lula não acredita na participação direta do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no episódio. Palocci passou todo o sábado e a manhã de domingo se preparando para a entrevista coletiva. Nesse período, trabalhou diretamente com dois assessores - o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, e o assessor de imprensa, Marcelo Netto. Portugal fez contatos com parlamentares da oposição e a vários deles também se queixou do Ministério Público. Ele alegou, segundo seus interlocutores, que o MP "não pode prejudicar o que está sendo conquistado na economia". Por telefone, Palocci conversou inúmeras vezes com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que o ajudou na fundamentação dos aspectos jurídicos de sua resposta a Buratti e à atuação do MP de São Paulo. No sábado, enquanto se preparava para a entrevista em sua residência, em Brasília, Palocci recebeu a visita do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). O senador tem sido um interlocutor freqüente do ministro da Fazenda e um defensor aplicado do governo Lula nesta crise. Foi até Palocci prestar solidariedade e lhe dar conselhos. Além da visita de Sarney, Palocci recebeu telefonemas de ministros e parlamentares. Preocupado em preparar uma estratégia para a semana que se inicia, o presidente Lula, que passou o fim de semana em São Paulo, Hortolândia e Campinas, no interior paulista, convocou reunião para noite de ontem com os ministros do chamado "gabinete de crise" - Palocci, Thomaz Bastos, Jaques Wagner (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil), Ciro Gomes (Integração Nacional) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência). Na pauta da reunião, a discussão de um possível pronunciamento do presidente Lula, ainda hoje, para defender Palocci. (CR, MLD e AG)