Título: Para Palocci, economia brasileira está sólida
Autor: Arnaldo Galvão, Maria Lúcia Delgado e Cristiano Ro
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Política, p. A4

Crise Presidente julgou que fatos são insuficientes para troca de ministro

A economia brasileira está sólida, não depende da permanência do ministro da Fazenda no governo e a política econômica não vai mudar para responder à grave crise política. Essas foram as mensagens que o ministro Antonio Palocci procurou transmitir ontem, em entrevista coletiva à imprensa, convocada para ele se defender das acusações feitas na sexta-feira pelo seu ex-secretário na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), Rogério Tadeu Buratti, que denunciou um suposto esquema de propina quando Palocci era prefeito daquela cidade. Com serenidade, Palocci afirmou que "ninguém é insubstituível" e explicou que, pouco antes da entrevista de ontem, telefonou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para deixá-lo à vontade sobre uma eventual troca no comando da Fazenda. Segundo o ministro, Lula considerou insuficientes os fatos para essa mudança. "Dei ao presidente todas as alternativas. Jamais vou utilizar a sensibilidade da área econômica por apego ao cargo", informou. Palocci garantiu que a economia está "forte para qualquer turbulência". Citou como exemplos dessa força a lucratividade das empresas - a melhor em 23 anos -, a média mensal de mais de cem mil empregos formais criados e as contas externas. Ele reconheceu que a estabilidade da economia não é mantida apenas pelo presidente e pelo ministro da Fazenda porque a imprensa e a sociedade estão vigilantes. "Esse processo não vai colocar os pilares da economia em risco. A situação é diferente de 2002 e 2003. Os agentes, hoje, sabem diferenciar os processos políticos dos econômicos. Nossos fundamentos estão mais sólidos. E a nossa democracia não é mais a incipiente de 20 ou 30 anos atrás", justificou. O ministro também admitiu ontem que o governo não pensa em aprofundar a política econômica, ortodoxa, em resposta à crise. "Com clareza, digo que a política não tem de ser mais ortodoxa diante dos problemas políticos. A política econômica e os indicadores, do jeito que estão posicionados hoje, não carecem de reforço, mas não podem ser enfraquecidos. Seria um grande engano, um engano do tamanho do Brasil", alertou Palocci. O ministro revelou que muita gente chegou a propor coisas "exóticas e pirotécnicas que dariam soluções rápidas". "Fizemos aquilo que a situação exigia diante dos desafios do Brasil. Tivemos razoável sucesso, mas esse sucesso não é do ministro, é das políticas que o presidente banca", afirmou. Ele disse não acreditar em blindagens da economia. "Não é uma atitude política que blinda a economia. São as atitudes e os resultados que a política teve nos últimos anos que vão levar aos fundamentos da economia. Se as atitudes não tivessem sido tomadas lá atrás, não adiantaria hoje subir os juros ou o superávit primário", advertiu. Palocci informou que o presidente Lula vai mandar ao Congresso, em poucos dias, o projeto de reforma da Lei de Defesa da Concorrência. A principal mudança é a análise prévia de fusões e aquisições. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), terá prazo de poucos meses para decidir. Outra medida que vai ao Congresso em pouco tempo é a quebra do monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).