Título: Desgaste preocupa empresários
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Política, p. A6

O desgaste causado pela sucessão de denúncias envolvendo autoridades do governo representa ameaça maior à economia do que uma possível mudança no Ministério da Fazenda, afirmam empresários e executivos de grandes companhias ouvidos pelo Valor. A reação desses interlocutores à entrevista concedida pelo ministro Antonio Palocci foi positiva. No entanto, eles avaliam que a força política do governo está sendo corroída aos poucos, cada vez que surge nova acusação. "O preocupante é a credibilidade do governo como um todo. Isso, sim, pode atingir a área econômica", diz o vice-presidente da Siemens, Aluízio Byrro. Para o presidente de uma operadora de telefonia, a denúncia contra o ministro pode até ser falsa, mas as coisas estão seguindo um "caminho complicado" porque Palocci é a âncora. "O país está sendo administrado na área econômica. O resto é um apêndice." As denúncias constantes preocupam Haroldo Levy Neto, presidente da Apimec/SP, associação dos analistas de mercado de capitais. "O cenário político passa uma impressão de descontrole", diz. "Parece que, se puxar o cordão, não sobra ninguém, o que é muito ruim para o país." Fonte de uma grande construtora também considera que o cenário está "muito complicado" e, embora ainda não tenha atingido a economia, pode comprometer o bom desempenho apresentado até agora. "A economia continua blindada porque o momento mundial é muito favorável." Um executivo do setor têxtil concorda que as exportações mantêm a economia funcionando, apesar da crise. "Há um esforço das empresas em continuar exportando, mesmo com baixa lucratividade, o que financia a dívida de curto prazo. A economia está sólida." Quanto à possível saída de Palocci (negada por ele ontem), a expectativa geral é de que, se houver, o ministro seja substituído por alguém que mantenha a política econômica. O presidente de uma grande operadora de celular observa que ainda está difícil enxergar toda a dimensão da crise. Porém, avalia que as acusações contra Palocci devem gerar "inquietude" sem ter grande impacto na economia. Na opinião de Byrro, da Siemens, a entrevista de Palocci foi um "calmante para o mercado". Segundo ele, o ministro demonstrou firmeza e serenidade. "Se algo aconteceu, foi sem o conhecimento dele", afirma o executivo. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), faz avaliação semelhante. "Foi um pronunciamento traqüilizador." Marcio Utsch, presidente da Alpargatas, afirma que a crise vai se restringir à política, sem impacto nos negócios. "Continuamos com nosso plano de investimentos", diz. Para ele, Palocci tem feito um bom trabalho, apesar da política de juros "altíssimos". Segundo Paulo Skaf, presidente da Fiesp (federação da indústria paulista), o ministro foi "esclarecedor, firme, sereno e responsável". Ele não vê razão para abalos na economia, mas faz uma ressalva: "Se não aparecerem fatos novos". O presidente da Firjan (federação industrial do Rio), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, diz que Palocci saiu-se bem e não deixou perguntas sem resposta. Gouvêa afirma que a oposição e a esquerda precisam ter consciência de que a política econômica é um ativo da sociedade. (Com agências noticiosas)