Título: Oposição espera novo depoimento de Buratti e poupa Palocci da CPI
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Política, p. A6

A postura do ministro da Fazenda, Antonio Palocci - que se dispôs a falar abertamente e com firmeza à imprensa sobre as denúncias que o envolvem -, agradou aos parlamentares da oposição, mas não coloca um ponto final no momento mais crítico da crise política. As atenções dos oposicionistas estão voltadas para o novo depoimento que Rogério Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci em Ribeirão Preto, prestará à CPI dos Bingos na quarta-feira. O depoimento já está acertado. Durante o fim de semana, os principais líderes da oposição concordaram que é necessário evitar, pelo menos por enquanto, uma convocação de Palocci pela CPI e eventual quebra de sigilos constitucionais do ministro. O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), foi convencido por seus correligionários a agir com extrema prudência e não dar prioridade nesta semana à votação de requerimentos que propõem a convocação de Palocci. A fala de Palocci conteve a crise e impediu que ela se alastrasse. Mas se Buratti fizer novas revelações, o quadro muda. "Não se pode convocar o Palocci sem que haja elementos muito concretos que possam ultrapassar as declarações de Buratti. Se ele voltar e der elementos mais concretos, ai a CPI analisa se é necessário convocar o ministro", concluiu o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), membro da CPI Mista dos Correios. Parlamentares da oposição foram contatados nos últimos três dias pelo secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, e pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Foi a ofensiva do governo para pedir cautela à oposição. A oposição considera que Palocci, ficando ou não no cargo, sai da crise enfraquecido. O que dá credibilidade às denúncias de Buratti, segundo parlamentares consultados pelo Valor, é exatamente o fato de ele ter sido um homem de confiança de Palocci. No entanto, a ordem é manter Palocci no cargo. Ninguém aposta em instabilidade econômica à vista, mas a oposição considera o quadro extremamente preocupando sobretudo se somado às turbulências no PT e diante da incerteza sobre a quem caberá o controle do partido. Quando soube do depoimento de Buratti ao Ministério Público de São Paulo, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um dos parlamentares da oposição mais próximos de Palocci e defensor do ministro, disse ter tido a sensação de fim de mundo. "Passado o susto e o choque, fiquei com o sentimento de que é preciso ter muita cautela e cuidado. Não podemos tomar nenhuma decisão política sem analisar a consistência das acusações", disse Tasso. Nas conversas que teve com Murilo Portugal, o senador tucano avisou que o PSDB sabia que qualquer ato precipitado poderia gerar sérias conseqüências e, portanto, nada faria por enquanto. "Toda sustentação do presidente Lula está em cima da política econômica. E o avalista dessa política é o Palocci", disse Tasso Jereissati. Só as declarações de Buratti, sem provas ou outras conexões que mostrariam a participação direta de Palocci em irregularidades para engordar o caixa 2 do PT, não seriam suficientes para derrubar o ministro, na avaliação dos tucanos. O PFL também prega a prudência, mas considera que a palavra de Palocci não é suficiente para encerrar o assunto. O presidente da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que o acusador precisa mostrar provas, e as ligações de auxiliares de Palocci no Ministério da Fazenda com Buratti precisam ser esclarecidas. "Cabe a palavra ao Buratti", disse. Se o ex-secretário de Palocci fizer novas revelações, Palocci não se sustenta, considera o pefelista. "E outro ministro virá. A política continuará a mesma, a economia continuará a mesma", opinou Bornhausen. Para o presidente do PFL, o que dá estabilidade à economia são as rigorosas ações do Banco Central. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) considerou tranqüilizadora a explicação de Palocci. "O governo e o presidente Lula deveriam aprender com ele como reagir diante de crises. Deu uma aula ao PT. Se não houver nenhum fato novo, eu não o chamaria à CPI", alegou. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), segue a mesma linha de Bornhausen. "É muito otimismo achar que o assunto se encerrou hoje (ontem)", disse. As investigações devem prosseguir com rigor, sem prejulgamentos a Palocci, e com a cautela necessária, acrescentou. "Não é agradável o ministro da Fazenda estar discutindo isso, e ele sabe disso. Mas foi positivo ele ter falado. Me pergunto como ficam os mudos do PT", alfinetou. O que irritou o PSDB foi o fato de o ministro ter comemorado o índice de geração de empregos no governo Lula, em comparação ao governo anterior. "O ministro foi absolutamente impreciso e insincero. Esperemos do ministro sobriedade. Se ele quer que a gente acredite no resto do que ele diz, então não pode mentir sobre a geração de empregos", criticou o tucano. "Zerou o jogo. Ficou a palavra de um contra a de outro", ponderou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). O fato de Lula ter mantido Palocci no cargo, concluem os pefelistas, deixa o ex-ministro José Dirceu numa situação ainda mais delicada. A oposição teme uma reação indignada de Dirceu. "Ficou claramente demonstrada a indisposição de Lula com Dirceu, que não ficou no cargo e não falou à nação", opinou Agripino. Nos bastidores, nem PSDB nem PFL apostam na inocência de Palocci. Só consideram que é melhor, para a economia, que o ministro conduza o barco.