Título: Dificuldades na CPI dos Bingos
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Política, p. A7

O governo terá dificuldades para colocar em prática uma estratégia de defesa na CPI dos Bingos e evitar a convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para depor. Dependerá, para isso, basicamente da boa vontade da oposição e de senadores dissidentes da base aliada. Sem prever complicações imediatas nessa comissão de inquérito, que pretendia dedicar o restante do mês de agosto à apuração de possíveis irregularidades na renovação de um contrato de R$ 650 milhões entre a Caixa Econômica Federal e a Gtech do Brasil, o governo está desmobilizado até agora na CPI dos Bingos. A missão de monitorar os trabalhos da comissão foi delegada aos senadores petistas Flávio Arns (PR) e Tião Viana (AC), que têm desempenhado essa tarefa praticamente sozinhos. Diferentemente das comissões mistas, como a dos Correios e a do Mensalão, que dão ao PT um número maior de assentos por causa da representatividade da legenda na Câmara, a CPI dos Bingos só funciona no Senado e tem apenas três petistas entre seus integrantes titulares. O terceiro, Sibá Machado (AC), raramente é visto nas sessões. Para complicar a situação, o governo dificilmente poderá contar com uma postura defensiva de outros parlamentares dos partidos aliados. O senador Magno Malta (PL-ES) já contrariou mais de uma vez a orientação do partido em votações no plenário, adota uma linha agressiva nos trabalhos da comissão e estuda mudar de legenda nos próximos meses. O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), é da oposição e o relator, Garibaldi Alves Filho (RN), busca atuação independente no PMDB e não fez indicações para cargos no governo. Efraim e Garibaldi esperavam entrar na "parte política" da CPI somente em setembro, com os depoimentos já aprovados do ex-ministro José Dirceu e do casal Rosinha e Anthony Garotinho, mas vão rever o calendário. Eles tentarão marcar para quarta-feira uma nova ida do advogado Rogério Buratti à comissão. "Se o depoimento dele for convincente, a convocação do ministro Palocci fica praticamente irreversível", admite o senador Garibaldi. O presidente da CPI mantém a cautela e está disposto a oferecer proteção policial a Buratti para que ele "solte a língua" no novo depoimento. Ele ainda evita colocar em votação um requerimento, apresentado pelo senador Geraldo Mesquita (Psol-AC), convocando Palocci. "Não vamos nos precipitar", pede Efraim. Sorte do governo, que, segundo cálculos dos próprios parlamentares, tem assegurados somente seis dos 15 votos de membros titulares da CPI em eventuais questões polêmicas. Na sexta-feira, Buratti afirmou aos promotores de Ribeirão Preto que casas de bingo contribuíram financeiramente à campanha de Lula, em 2002. Segundo ele, foram levantados R$ 1 milhão em São Paulo, por meio de Ralf Barquete dos Santos, ex-secretário de governo na gestão de Palocci em Ribeirão, e mais R$ 1 milhão no Rio de Janeiro, por meio do ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz. Parlamentares e técnicos da CPI viram nessa denúncia um novo sinal de influência de Ralf entre os petistas. Morto no ano passado, vítima de câncer, ele assumiu o cargo de consultor da presidência da Caixa Econômica Federal em 2003. Ralf e Buratti eram amigos próximos. Mas isso não esclarece, na avaliação da CPI, por que a Polícia Federal encontrou 30 ligações entre os dois nos dias 7 e 8 de abril de 2003. No dia 8, foi assinada a renovação do contrato da Caixa com a Gtech. Ex-diretores da multinacional americana acusam Buratti de ter cobrado propina de R$ 6 milhões para intermediar, junto a altos funcionários do governo, melhores condições à empresa no contrato. A agenda da CPI para esta semana previa os depoimentos de três ex-presidentes da Caixa - Danilo de Castro, Sérgio Cutolo e Emílio Carrazai -, além do atual, Jorge Mattoso, mas deve ser alterada.