Título: Reta final estreita vantagem de favoritos
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Política, p. A4

Eleições PT pode somar 18 municípios entre aqueles com mais de 200 mil eleitores e o PSDB, 16

A última semana da campanha eleitoral mostra uma diminuição da diferença entre o primeiro e o segundo colocado nas pesquisas na maioria das cidades. O acirramento da disputa, contudo, ainda não foi suficiente para reverter o favoritismo dos adversários do PT nas principais capitais. O partido foi para o segundo turno em segundo lugar em onze das 24 cidades que disputa. Virou o jogo em relação ao primeiro turno em Fortaleza , Cuiabá, Londrina e Contagem, mas foi ultrapassado em Porto Alegre. Entre as capitais, o PT no primeiro turno ganhou em seis e pelas pesquisas atuais terminaria a eleição com nove, descontada Porto Velho, onde não há pesquisas. Em 2000, seis petistas foram eleitos nas capitais. O resultado é expressivo do ponto de vista númerico, mas enganoso como força eleitoral. Este ano, além de Belo Horizonte, Recife e Aracaju, o partido venceu nas menores capitais, como Palmas, Rio Branco e Macapá. O PT apenas reduziu a diferença, mas não a ponto de estar em situação de empate técnico, nas mais importantes: São Paulo, Goiânia e Belém. A maior perspectiva de virada está em Curitiba, onde pesquisa publicada pelo jornal "Estado do Paraná" mostrou Angelo Vanhoni a três pontos do tucano Beto Richa. Quando se considera as cidades pelo seu tamanho, o cenário das pesquisas é catastrófico para o Palácio do Planalto. Das dez maiores capitais, o governo terminaria o processo eleitoralmente claramente derrotado em sete: São Paulo, Rio de Janeiro (onde o pefelista César Maia ganhou no primeiro turno), Salvador, Curitiba , Manaus, Porto Alegre e Belém. Nas duas últimas capitais, os favoritos são oposicionistas abrigados em legendas de situação: tanto o gaúcho José Fogaça (PPS) quanto o paraense Duciomar Costa (PTB) combatem o governo federal. Nas três em que poderá aparecer como vencedor, em Fortaleza a favorita Luizianne Lins pertence à ala radical do PT. Alinhados com o Planalto, poderão ficar só os prefeitos de Belo Horizonte e Recife, entre as cidades com mais de um milhão de eleitores. A se confirmar o resultado das pesquisas já divulgadas em 42 das 44 cidades com segundo turno, o PT também não terá hegemonia númerica sobre os partidos de oposição, no grupo dos 68 municípios do País com mais de 200 mil eleitores e das quatro pequenas capitais abaixo deste patamar. Inexistem sondagens em Porto Velho e Santo André , onde o PT disputa contra o PSB no primeiro caso e PSDB no segundo. Sem considerar as duas cidades, o PT venceria em 14 dos municípios em que disputa o segundo turno e perderia em oito. Na primeira rodada eleitoral, ganhou em quatro. No conjunto dos 68 grandes centros e das quatro capitais com menos de 200 mil eleitores, o partido aparece como vencedor em 18 disputas, o mesmo número de prefeitos que elegeu neste conjunto de prefeituras em 2000. O PSDB está na frente no segundo turno em dez cidades e atrás em nove. Ganhou no primeiro turno em seis cidades, todas do interior. Poderá ficar com pelo menos 16 prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores ou capitais. Fez 14 municípios deste grupo em 2000. O PDT , que conseguiu seis vitórias quatro anos atrás, ficaria com oito prefeitos deste universo. O PFL ganhou em seis e permaneceria com o mesmo número. Entre os partidos aliados, o PMDB não conseguiu reverter nas pesquisas a situação desfavorável com que foi para o segundo turno. Aparece na frente em três cidades e em segundo em nove delas. No primeiro turno, ganhou em dois municípios. Ficaria com cinco grandes cidades, a metade do que obteve em 2000. Nos principais municípios , de longe é o que corre o risco de tornar-se o maior perdedor. Entre os governistas , teria uma prefeitura a menos que o PSB, que figuraria como a maior legenda governista nos municípios com dois turnos depois do PT. Em São Paulo, as pesquisas a serem divulgadas entre sexta e sábado serão decisivas para definir ou não a eleição a favor do tucano José Serra, contra a petista Marta Suplicy, que tenta a reeleição. O candidato do PSDB terá que enfrentar dois fatores negativos no domingo: a previsão de uma grande saída de potenciais eleitores para o interior do Estado, em função do feriado de Finados na terça-feira, e o peso da militância petista. A vantagem nas pesquisas de sete a nove pontos ainda dá tranquilidade ao tucano, mas se cair, correrá riscos. Como é tradição no segundo turno, acusações de uso da máquina e ataques pessoais cresceram de modo exponencial em relação ao primeiro turno. No Rio de Janeiro, o governo estadual praticamente se transferiu para o interior. Em São Paulo, jornais tradicionais receberam edições apócrifas com denúncias contra o candidato tucano. Em Manaus, um aliado do PFL divulgou uma denúncia de paternidade não reconhecida contra o candidato do PSB, sem que esteja comprovada sequer a existência da criança. Pela avaliação de aliados do prefeito do Rio, o pefelista César Maia, a oposição ao ex-governador Anthony Garotinho está pessimista: a previsão dos próprios adversários do pemedebista é que dificilmente o PMDB perderá para o PDT em Campos, apesar da desvantagem na última pesquisa e deverá vencer em Duque de Caxias e São João do Meriti. Derrota certa, só em Niterói, para o petista Godofredo Pinto. O resultado em Nova Iguaçu é considerado imprevisível. Depois do excelente desempenho do PSDB no primeiro turno, os aliados do governador paulista Geraldo Alckmin estão tropeçando no interior do Estado. A sigla está prestes a perder para o PT Osasco, a maior cidade que governa hoje no País, e presenciou uma virada em Campinas, onde o segundo colocado no primeiro turno, Doutor Hélio (PDT), suplantou o tucano Carlos Sampaio nas pesquisas, tendo o apoio simultâneo do PFL e do PT. Em Ribeirão Preto, caiu a diferença entre o tucano Welson Gasparini e o PMDB, mas a vantagem ainda é grande. Uma vitória de Serra em São Paulo apagaria este resultado ruim, mas caso haja uma derrota na capital do Estado o PSDB deixará de ser o favorito para manter o governo estadual em 2006.