Título: Projetos de redução de despesas crescem em áreas periféricas
Autor: Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Empresas &, p. B7

Produtividade Xerox, GSK e Embraer diminuíram gastos não relacionados ao foco principal de atuação

Pressionadas numa ponta pela concorrência acirrada, que espreme suas margens de lucro, e na outra por negociações cada vez mais duras para reduzir os custos de seus fornecedores, as empresas estão buscando competitividade cortando despesas em áreas não relacionadas com sua principal área de atuação. Apesar da tendência não ser nova, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Economia e Administração da USP mostra que os executivos brasileiros ainda têm muito trabalho pela frente. As despesas, como as administrativas, comerciais e de serviços, variam de acordo com a área de atuação, mas representam em média 5,2% das despesas totais, segundo a pesquisa da universidade. Mas existem poucos estudos sobre o assunto, mesmo em nível mundial, e há divergências sobre este número. Alguns especialistas apontam que essas despesas podem representar até 30% do total. Foto: Carol Carquejeiro/Valor

Monteiro, diretor de compras da Xerox, adotou a concorrência online e terceirizou serviços para ganhar competitividade

De qualquer forma, mesmo o índice de 5% pode ser considerado alto. "As empresas já fizeram sua lição de casa no que se refere a suas atividades principais. A saída é correr para economizar em outras áreas", defende Joanilia de Sales Cia, professora do Ibmec São Paulo. Foi com esse objetivo que a GlaxoSmithKline, da área da saúde, dedicou atenção especial para seus custos com impressão, telefonia fixa e móvel e despesas aéreas, reduzindo os gastos nessa áreas em R$ 12 milhões no ano passado. Na área de compras, a empresa adotou um catálogo eletrônico com fornecedores pré-selecionados e com as condições já negociados para 80% das compras. No método tradicional, o setor trabalha sob pressão do pedido. "Muitas vezes o cliente já entrou em contato com um fornecedor e só está oficializando a compra com o departamento", diz o diretor da área de Compras, Isaac Jarlicht. Em 2004, a empresa aboliu as impressoras individuais e centralizou o processo, reduzindo o número de impressoras de 700 para 130. Essa medida reduziu o volume de papel impresso em 32%. Na área de telefonia, a empresa trocou de operadoras. Além disso, renegociou seus acordos com companhias aéreas. Outro projeto da companhia é transmitir técnicas de gerenciamento para seus fornecedores, de forma a reduzir os seus custos. De acordo com Jarlicht, 40% da economia obtida é revertida em desconto para a GSK. Esse procedimento começou este ano e pretende impactar 20 empresas em 2006. Outra ferramenta utilizada para obter custos menores é o leilão reverso pela internet. Por meio dele, os fornecedores rebatem as ofertas dos seus concorrentes em um período que leva de uma a três horas. De acordo com o diretor de consultoria da PricewaterhouseCoopers, Mauro Leite, esse instrumento consegue obter preços menores dos fornecedores, mas é preciso tomar cuidado para não criar uma concorrência predatória entre eles. Na Xerox, o leilão reverso está começando a ser usado na compra de serviços. Até 2006, cerca de 60% das compras de serviços como segurança, limpeza, manutenção e viagens serão feitas por meio do leilão reverso online. O diretor de compras, Nelson Monteiro, conta que os preços caem porque a concorrência online mexe com o emocional e com o senso de urgência dos fornecedores. Ele explica que na manufatura ele não é tão indicado porque os fornecedores precisam ser qualificados e as aplicações são mais restritas. Na área de viagens, a empresa reduziu custos de US$ 3,5 milhões em 40% em 2004 com a política de marcar as viagens com antecedência. Além disso, a aprovação das viagens ficou mais criteriosa. Outra forma de reduzir custos foi terceirizando alguns serviços como o call center, data center e tecnologia desde meados de 2004. Com isso, segundo Monteiro, a qualidade do serviço melhora porque a empresa terceirizada é especializada em determinado serviço e a Xerox não precisa mais investir em uma área que não é seu foco. Uma das conseqüências é deixar de arcar com os encargos trabalhistas. O consultor da Price explica que a terceirização é uma tendência que ganhou força nos últimos quatro anos e vem crescendo nos serviços de tecnologia da informação e contabilidade. "As empresas estão se convencendo de que é viável transferir algumas áreas para especialistas", diz. Em alguns casos, até mesmo os resíduos industriais podem ser encarados como possibilidade de negócios. Pensando em gastar menos com aterros sanitários, a Embraer implantou um programa de coleta seletiva que engloba papel, madeira e caixas de leite longa-vida além dos materiais metálicos. No ano passado, a empresa conseguiu obter R$ 11 milhões entre redução de custos e geração de receita com o material revendido, um aumento de 57,3% em relação a 2003. As embalagens de madeira consumidas pela empresa alimentam um fabricante de assentos para cadeira, pallets e embalagens.