Título: Feriado ameaça liderança tucana
Autor: Jamil Nakad Junior e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Política, p. A5

Eleições Concessionárias de estradas estimam que 1,2 milhão de veículos podem deixar São Paulo A diminuição da diferença entre os candidatos José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) aliado ao "efeito feriadão" retirou do tucano a condição de franco favorito para o segundo turno. Pelo cálculos das empresas concessionárias de estradas, calcula-se que cerca de 1,2 milhão de veículos podem deixar São Paulo a partir de hoje. O resultado do "efeito Guarujá" poderá ser visto a partir de hoje, já que as concessionárias acreditam que a saída mais intensa de veículos se dará entre as 16h e às 22h. A Autoban, que liga São Paulo ao interior, acredita que 600 mil veículos devem circular pelas rodovias Anhangüera e Bandeirantes. Já a Ecovias calcula um tráfico acima do normal e diz que pode circular pelas estradas entre 290 mil e 410 mil veículos. A NovaDutra, que liga São Paulo ao Rio, acredita que 187 mil veículos partirão de São Paulo e a Vioeste, que liga a capital ao interior, acredita que esse número chegue a 190 mil. O cálculo não leva em conta os que viajarão pela rodovia Fernão Dias e pela Régis Bittencourt, estradas federais, que ligam São Paulo a Belo Horizonte e Curitiba. Se, em metade dos 1,2 milhão de veículos previstos para deixar a cidade estiver um eleitor paulistano, a diferença de cerca de 500 mil eleitores que separa Serra e Marta ficará imprevisível. A apreensão dos tucanos com o fato é total. Apesar do Datafolha ter apurado que a quase totalidade dos eleitores de ambos os candidatos afirmem que vão permanecer na capital, os tucanos temem a abstenção dos bairros de classe média e alta, redutos do PSDB. No primeiro turno esses redutos registraram a maior abstenção. Nos últimos dias de campanha, Serra concentrou sua atuação nestes bairros. No horário eleitoral gratuito, divulgou uma música que pede aos eleitores para votarem primeiro e botarem o pé na estrada depois. "A redução da diferença nas pesquisas pode nos ajudar, porque é um estímulo para o eleitor que rejeita Marta a ficar na cidade e votar em Serra", comentou o vereador eleito José Aníbal (PSDB). No PT, sob reserva, a torcida é para uma debandada da classe média. Oficialmente, o presidente do diretório municipal, Italo Cardoso, espera um comparecimento em massa às urnas. No primeiro turno, a abstenção chegou a 1,15 milhão de votos, ou quase 15% do eleitorado, a média histórica da cidade. A diferença entre os candidatos foi de 474 mil votos. Foto: Marcelo Ximenez/Folha Imagem

Serra: esforço concentrado em bairros de classe média e alta - redutos tucanos - na reta final da campanha Até mesmo integrantes da campanha de Serra admitem que a redução da diferença entre os dois candidatos nas pesquisas é real e se deve à correção de rumos do marketing da candidata petista. Depois de constatada a falta de efeito dos ataques diretos a Serra, uma linha agressiva defendida pelo candidato a vice, Rui Falcão, e pelo secretário de Projetos Especiais, Valdemir Garreta, prevaleceu entre os petistas a linha suave, em que se destaca ao eleitor as virtudes do governo petista e o risco dos programas serem descontinuados caso o tucano vença. O novo estilo petista deixou o PSDB na defensiva. O partido passou a atacar diretamente Marta, como forma de tentar bloquear a suavização da candidata. O debate de hoje à noite na Rede Globo é visto pelas campanhas de Marta e Serra decisivo para o convencimento de eleitores que ainda se mostram indecisos, 3% dos entrevistados. A campanha da candidata Marta Suplicy promoveu uma caminhada de uma hora e meia no centro da cidade, com a cúpula petista. O partido calculou em 40 mil os participantes que empunhavam bandeiras e cantavam gritos de ordem e jingles. No meio dos que gritavam podia-se ver secretários do governo de Marta, na hora do almoço, fazendo campanha. Entre eles, os secretários de Gestão Pública, Mônica Valente, o de Transportes, Gerson Bittencourt, e o de Habitação, Marcos Barreto. O presidente nacional do PT, José Genoino, disse que a cidade vai ficar "vermelha" no domingo: "O PT é um partido de reta de chegada". Marta fechou a manifestação com um discurso inflamando a militância a conquistar voto a voto com base na argumentação e para que fugissem da provocação dos adversários. "Tá na hora de comparar", pediu a petista. Serra resolveu comparecer à celebração de São Judas Tadeu, na igreja que tem o santo como padroeiro, no Jabaquara. Trata-se da segunda maior cerimônia católica do Estado, atrás apenas da de Aparecida do Norte, freqüentada por 450 mil pessoas em média, ao longo do dia. A entrada de Serra junto com um séquito de assessores, aliados, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas em uma igreja superlotada gerou tumulto. O padre que celebrava a missa teve que pedir para o candidato retirar-se da nave da Igreja e acompanhar a missa da sala da sacristia. Depois do constrangimento, o candidato percorreu a Vila Prudente com o governador Geraldo Alckmin.