Título: Retração atinge o setor de forma diferenciada
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Empresas &, p. B8

A produção e venda de produtos acabados de aço no mercado doméstico mantiveram a trajetória de queda dos últimos meses. A produção somou 12,9 milhões de toneladas, um recuo de 3,56%. Já as vendas somaram 9,4 milhões de toneladas, queda de 5,1%. O vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo Mello Lopes, atribui o fato a "um movimento especulativo preventivo" de estocagem do produto no mercado brasileiro, por conta de consumidores e distribuidores, temerosos de uma alta inusitada do produto, em consequência do aumento sem precedentes no minério de ferro (71,5%) e no carvão (120%), no início do ano. Mello Lopes trabalha com a perspectiva de recuperação desse mercado no quarto trimestre, quando espera uma normalização dos estoques de laminados em poder dos distribuidores de aço, hoje na faixa de 3,5 semanas, ante um nível normal de 2,5 semanas. A melhoria do mercado interno, se ocorrer, não impedirá o setor siderúrgico de fechar 2005 com uma queda de 4,5% na produção e de 5% nas vendas internas do insumo, na comparação com o mesmo período do ano passado, conforme projeção do IBS. Deverão ser produzidas 31,4 milhões de toneladas de aço e vendidas 16,9 milhões de toneladas, ante 17,8 milhões em 2004. As exportações também deverão decrescer 0,7%, com embarques estimados pelo IBS de 11,982 milhões de toneladas. Os números até julho, porém, revelaram uma melhoria no mercado de aços planos, matéria-prima das indústrias de bens duráveis e bens de capital sob encomenda. Segundo o IBS, estes laminados tiveram um crescimento de 1,1% na produção e de 2% nas vendas internas das usinas brasileiras em razão de maior ritmo de produção, principalmente, de automóveis. Já as produtoras de aços longos, como vergalhão, fio máquina e perfis, produtos muito demandados pela construção civil, despencaram 14,5% tanto em produção, quanto em vendas devido a baixa atividade da construção e a forte retração do setor de máquinas agrícolas. A indústria de longos está tentando compensar as perdas domésticas com a exportação. Até julho registrou aumento forte nas vendas externas, de 43,8% (1,76 milhão de toneladas) ante o mesmo período de 2004. Os laminados planos tiveram desempenho contrário, com suas exportações encolhendo 24,4% (1,77 milhão de toneladas). Na média, as exportações de aço cresceram nos sete primeiros meses do ano 1,6% em volume (7,35 milhões de toneladas) e 39% em valor (US$ 4 bilhões). Este aumento de receita ocorreu porque houve um aumento de vendas externas de laminados com maior valor agregado, que é o caso dos aços longos. Mello Lopes avalia que, além dos estoques elevados, juro alto e câmbio valorizado contribuíram para "a economia dar uma embarrigada" este ano. A apreciação do real, contou, afeta o setor diretamente pela exportação e indiretamente por afetar as vendas externas de setores intensivos em aço. Seu cenário externo é mais otimista. "Enquanto o motor do mundo (a China) continuar mantendo-se em patamares firmes e fortes não vejo grandes tensões a nível internacional para o mercado siderúrgico". (VSD)