Título: Matriz da alemã Thyssen aprova usina de US$ 2 bilhões no Brasil
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Empresas &, p. B8

Siderurgia Grupo deverá investir US$ 1,8 bilhão no projeto, previsto para operar em 2008

Num cenário de incertezas em relação a todos os projetos siderúrgicos anunciados nos últimos meses, a alemã ThyssenKrupp Steel garantiu os recursos necessários à construção da Companhia Siderúrgica Atlântica (CSA), no distrito de Santa Cruz, no Rio, um empreendimento de US$ 2 bilhões. Na sexta-feira, a direção mundial da companhia, maior siderúrgica da Alemanha, bateu o martelo e aprovou o projeto, onde terá participação de 90% e aplicará US$ 1,88 bilhão. Sua parceira será a Companhia Vale do Rio Doce, que terá 10% e deverá investir US$ 200 milhões, como informou ao Valor Erwin Schneider, assessor da ThyssenKrupp Steel alemã. Schneider disse que o Brasil é estratégico para o grupo alemão no mercado mundial. Segundo ele, a empresa produzirá 4,4 milhões de toneladas de placas a partir de 2008, para exportação para os Estados Unidos e Europa. Ele não mencionou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como futuro sócio da empresa, apenas a Vale. Mas, fontes do banco informaram que estavam aguardando a aprovação do projeto pela Thyssen para retomarem as conversas com o grupo alemão sobre o apoio financeiro ou participação acionária na CSA. Dirigentes da Thyssen e Aristides Corbellini, que será o presidente executivo da CSA, estiveram mês passado no banco, reunidos com o presidente Guido Mantega e seu vice, Demian Fioca. Os executivos da Thyssen mostraram interesse na participação do banco como associado ao projeto. O assunto está em discussão no BNDES, que não descarta a possibilidade de ter uma participação minoritária (de até 20%) na siderúrgica. O financiamento do projeto será 100% em equity, conforme havia adiantado Corbellini, em entrevista recente. O executivo foi procurado para falar sobre a CSA, mas não quis dar entrevistas. O projeto da CSA prevê, além da construção da usina, gastos de mais US$ 300 milhões com a uma coqueria para 1,4 milhão de toneladas/ano de coque, uma termelétrica com capacidade de 250 MW e dois terminais portuários, um para importação de carvão e outro para exportação de placas. A Thyssen vai liderar a construção da usina, mas os projetos de energia e logística serão encabeçados pela Vale. A meta é a CSA começar a operar em meados de 2008. A Vale deverá fornecer 7,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano para tocar a produção de placas, das quais 50% serão destinados a suprir as usinas do grupo Thyssen na Alemanha. Procurada através da sua assessoria, a Vale não deu retorno para falar sobre o projeto da CSA. Além da participação na CSA, a mineradora brasileira tem parcerias anunciadas em mais três novos projetos siderúrgicos no país para produção de placas. Em todos, a Vale será minoritária, como reza a estratégia da companhia. No projeto da Usina Siderúrgica do Ceará (USC), a mineradora faz parceria com a italiana Danielli e a coreana Dongkuk Steel. Mas, este arranjo societário ainda não foi concluído, podendo entrar o BNDES na sociedade. Outro projeto é com a chinesa Baosteel, na região de São Luiz, no Maranhão. Também foi assinado um acordo de intenção com a coreana Posco, de construção de outra usina no Maranhão, também de 4,5 milhões de toneladas de placas por ano. Até agora, o único projeto que realmente caminhou foi o da CSA. O projeto da Baosteel, segundo analistas do setor, pode acabar não saindo, pois está às voltas com questões ambientais e sociais na área da ilha de São Luis. Outro fato que perturbou seu andamento foi o estudo de viabilidade, que estimou um investimento 20% mais caro que o previsto por conta de carga tributária e outros custos. Conforme o estudo, seriam necessários investimentos de US$ 2,2 bilhões para construir a usina e não os previstos US$ 1,5 bilhão. Este problema pode ter sido resolvido com a chamada MP do Bem, que abate carga tributária em projetos de investimento para exportar, como será o caso da usina de placas da Baosteel, com produção prevista de 4,5 milhões de toneladas. O projeto da USC está emperrado por conta de um acordo de gás com a Petrobras. A usina será tocada pelo processo de redução direta na produção de aço, que necessita de gás. O Gasoduto do Nordeste (Gasene), que proveria a USC, ainda não saiu do papel. O valor do projeto é da ordem de US$ 750 milhões com produção estimada de 1,5 milhão de toneladas de aço por ano. O BNDES já enquadrou um pedido de financiamento da ordem de US$ 110 milhões, mas ainda não fez a análise do projeto. A USC quer a participação societária do banco no negócio. As conversas ainda estão em curso no BNDES. A assinatura de um acordo de intenção entre a Vale e a coreana Posco para fazer uma usina de placas no Maranhão pode não ir para frente, na visão dos analistas. Recentemente, a maior siderúrgica da Coréia definiu um investimento na India, país que disputa com o Brasil projetos siderúrgicos, da ordem de US$ 12 bilhões, depois de ter obtido do governo indiano a concessão de exploração de uma mina de minério de ferro.