Título: Mais de US$ 2,5 bilhões em linhas "stand-by"
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Finanças, p. C1

A forte liquidez externa para o país neste momento e o temor de um aumento das taxas de juros dos empréstimos internacionais por causa da crise política e crescente proximidade das eleições presidenciais estão levando um número cada vez maior de empresas e bancos a tomar linhas de crédito "stand-by". Essa linha funciona como uma espécie de seguro - a empresa ou banco paga uma comissão para ficar com o crédito disponível por um determinado período de tempo com juros predeterminados. A empresa só saca a linha de crédito se o quanto quiser. Segundo levantamento do Valor, entre operações já fechadas e em andamento, há US$ 2,5 bilhões desse tipo de linha destinados às empresas e bancos brasileiros. Muito comum nos EUA, o crédito "stand-by" foi tomado pela primeira vez no Brasil pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), no ano passado. Desde então, a estrutura vem conquistando o mercado e ganhando inovação crescentes na sua engenharia financeira. O Unibanco está preparando uma estrutura inovadora para tomar sua linha de US$ 200 milhões de "stand-by". O crédito, se sacado, terá lastro nas ordens de pagamento dos clientes do Unibanco no exterior ao Brasil. Como essas transferências são feitas pela por meio da Swift, uma câmara de compensação e liquidação internacional, no código MT 100 ("Money Transfer 100"), esse tipo de fluxo é conhecido no mercado como "MT 100". Com o lastro em MT 100, o Unibanco vai conseguir a linha de crédito "stand-by" de mais longo prazo já obtido por uma empresa ou banco brasileiro -cinco anos após a data de saque- em operação liderada pelo banco japonês Sumitomo. Os recursos vão ficar disponíveis por dois anos. A operação ainda está em andamento, mas poderá ser concluída até o final deste mês. O Banco Votorantim também está preparando, sob a liderança do Calyon, um "stand-by" de prazo de vencimento em dois anos. Já a Braskem acabou ampliando de US$ 300 milhões para US$ 400 milhões sua operação de crédito "stand-by", a primeira para financiamento à importação do país. Os recursos ficam disponíveis por dois anos e, se sacados, terão de ser pagos em dois anos. Há US$ 1,73 bilhão em linhas "stand-by" já tomadas pelas empresas e bancos brasileiros. Diretores de banco e de empresas destacam a importância da linha nos indicadores de liquidez do tomador e a consequente melhoria nas suas notas de crédito. A Vale do Rio Doce tornou-se "investment grade", espécie de selo de investimento não-especulativo, pela agência de classificação de risco Moody's após ter tomado o "stand-by" de US$ 650 milhões neste ano. Mas muitos diretores citam a proximidade das eleições como fator que estimula a maior precaução.