Título: Juros do crédito à exportação de curto prazo em recorde de baixa
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Finanças, p. C1

Linhas externas Grandes bancos têm sobra de caixa em dólar e cobram menos que a Libor

O excesso de caixa em dólar dos grandes bancos no Brasil tem tornado o mercado de crédito à exportação de curto prazo cada vez mais competitivo. Na disputa pelo cliente, as instituições financeiras têm oferecido financiamento com juros abaixo da Libor, a taxa interbancária de Londres, para prazos de vencimento até 60 dias. O custo abaixo da Libor chega a 0,20 ponto percentual. Uma melhor taxa de câmbio também ajuda na disputa e os maiores instituições financeiras chegam a comprar dólar dos exportadores pela cotação de venda, que é geralmente R$ 0,002 mais alta, mais um prêmio de R$ 0,003 por dólar. A prática, que até o final do ano passado acontecia somente em alguns casos isolados, passou a se generalizar neste ano para um grupo cada vez maior de grandes empresas. "Até os pequenos e médios exportadores estão se beneficiando de uma redução nos juros do crédito à exportação", afirmou o diretor interino de comércio exterior do Banco do Brasil, Rogério Lote. O grande desafio para os bancos é tornar as linhas vinculadas à exportação de curto prazo competitivas em relação ao capital de giro no mercado interno, diz o especialista Sergio Meniconi, responsável pelo câmbio e ativos internacionais do Unibanco. A comparação é com uma conta garantida, por exemplo. Segundo explicou ele, o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), crédito pré-embarque, e o Adiantamento sobre Cambial Entregue (ACE), pós-embarque, dois tipos de crédito à exportação de até um ano de vencimento, não pagam Imposto de Renda ou Imposto sobre Operações Financeiras, como uma linha de capital de giro. Além disso, como o pagamento da empresa ao banco é feito no exterior, também não há a cobrança de uma Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), segundo conta Luiz Campiglia, diretor do Itaú BBA. No entanto, de acordo com Campiglia e Meniconi, o cupom cambial, o juro para investimentos em dólar no mercado interno, está em níveis baixos. Por isso, ao fazer o "swap" (conversão) da dívida em dólar para a dívida em reais, o grande exportador, por exemplo, teria de pagar taxas acima dos 101% a 102% dos juros do Depósito Interfinanceiro (DI) que ele geralmente paga para operações de curto prazo de capital de giro em reais em uma conta garantida. Mesmo considerando-se as desvantagens fiscais, muitas vezes o ACC ou ACE perde a atratividade. A saída dos bancos tem sido melhorar a taxa de câmbio de venda do exportador e reduzir os juros abaixo da Libor para fechar o ACC ou ACE. É importante notar que, se vai aplicar o caixa em dólar em uma operação por um dia ("overnight"), o banco vai ganhar 3,3875% ao ano. Ainda é mais vantagem repassar a sobra de caixa para o exportador por 60 dias por 3,50% ao ano - a Libor está em torno de 3,70% - e deixar o cliente feliz para discutir com o banco o fornecimento de outros tipos de produtos, como por exemplo a execução da folha de pagamentos ou a abertura de um Posto de Atendimento dentro da empresa. Por isso, são justamente os grandes bancos com atuação no varejo do país que têm conseguido maior espaço no mercado de ACC e de ACE. Na luta pelo cliente, o BB tem saído na frente, com 34% do mercado em junho, segundo números preliminares. Mas o Bradesco (23%), o Santander (8%), o Unibanco, o Itaú (7% cada) e o ABN AMRO (6%) também têm participação importante. Esses bancos têm grande fluxo de ordens de pagamento de seus clientes no exterior ao Brasil, o que amplia sua disponibilidade de caixa em dólar. No financiamento de prazo acima de um ano, o ABN e o Santander saem na frente, com 20% do mercado cada, mas são seguidos de perto pelo BB e pelo Bradesco (15% cada). "É justamente a grande disponibilidade de linhas que tem tornado o BB tão competitivo em relação aos bancos internacionais mesmo no longo prazo", comenta Lote. Neste ano, o Banco do Brasil estima fechar US$ 11 bilhões em ACCs e ACEs, 22% a mais do que no ano passado. Até quinta-feira, já havia realizado um total de US$ 7,8 bilhões desse tipo de operação, um aumento de 30% em relação aos US$ 5,98 bilhões feitos de janeiro até o final de agosto de 2004. O Unibanco também tem percebido crescimento de 15% nas linhas de curto prazo tomadas pelos exportadores. "O recorde histórico na nossa balança comercial, com exportações de US$ 110 bilhões esperadas para este ano, ajuda no crescimento do mercado", diz Rogério Lote. Para as pequenas empresas, o BB fechou US$ 115 milhões de ACCs e ACEs, em 2.800 operações. Foram também realizados US$ 23 milhões com pessoas físicas identificadas como exportadores, informa Lote.