Título: Setor de máquinas agrícolas ganha espaço no mercado venezuelano
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Finanças, p. C3

A Venezuela está implementando um projeto de modernização da agricultura. O governo do presidente Hugo Chávez concede financiamentos preferenciais, com baixas taxas de juros, para que os pequenos produtores rurais adquiram máquinas e implementos agrícolas. Há programas específicos para a cultura do milho e para a aquisição de material genético de gado. A iniciativa favorece o Brasil. Um das maiores potências agrícolas do planeta, o país é também um grande produtor de máquinas para o setor. Em boa parte dos casos, as aquisições são feitas pelos próprios produtores rurais que se associam em cooperativas para adquirir as máquinas. Algumas vezes esses produtores são auxiliadas por técnicos do governo na hora de escolher quem será o fornecedor. Também há projetos que são aprovados pelo governo por meio do Fundo de Desenvolvimento Agrícola, Pesqueiro, Florestal e Afins (Fundava). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já financiou dois projetos na área agrícola aprovados pelo Fundava. As operações somaram US$ 80 milhões e uma das empresas beneficiadas foi Cotia Trading, que exporta máquinas agrícolas para a Venezuela. "Chávez está dando um grande suporte para a agricultura", afirma Santiago Larroux, gerente da divisão de vendas para a América Latina da John Deere. O mercado total de tratores da Venezuela saltou de 737 unidades em 2003 - ano em que o país enfrentou um golpe de Estado - para 2.667 unidades em 2004 e 2.084 unidades no primeiro semestre desse ano. Segundo Larroux, os venezuelanos estão preferindo os produtos da América Latina, mas antes o país costumava adquirir esse tipo de produto de fabricantes italianos. Ele afirma que cerca de 90% das máquinas agrícolas da Venezuela são brasileiras. No caso das colheitadeiras, esse percentual chega a quase 100%. Em 2003, os produtores venezuelanos compraram 57 colheitadeiras no exterior. Em 2004, foram 598. No ano passado, a filial brasileira da John Deere aumentou suas vendas de tratores para a Venezuela em 300% em relação a 2003, conquistando 29% desse mercado no país, informa Larroux. Passada a explosão do mercado, as exportações de tratores da companhia para o país caribenho cresceram 12% no primeiro semestre de 2005. De acordo com Othon D'Eça Cals de Abreu, presidente da Kepler Weber, o governo da Venezuela também está incentivando os agricultores do país a investir na armazenagem de grãos. A gaúcha Kepler Weber é uma das maiores produtoras de silos do Brasil. "Vendemos para a iniciativa privada, mas o governo facilita a operação", conta Abreu. Ele acrescenta que as operações são garantidas por um banco de primeira linha em Nova York. "De 2001 a 2004, a Venezuela representou para a Kepler Weber o que deixamos de exportar para a Argentina", diz o executivo. A empresa perdeu um grande mercado quando a Argentina, terceiro maior produtor de grãos do planeta, entrou em crise. "Se não tivesse aparecido a Venezuela, teríamos um retrocesso nas vendas para a América do Sul", diz. Segundo Abreu, o "boom" de exportações para a Venezuela já passou e o país está se tornando um mercado mais maduro. As vendas para a Argentina começaram a se recuperar, mas lentamente por conta da falta de crédito para os agricultores, já que o país ainda está negociando o "default" de sua dívida. Para 2005, a Kepler Weber fechou um grande contrato de vendas para Cuba da ordem de US$ 12,2 milhões. As exportações representam aproximadamente 30% do faturamento da empresa. (RL)