Título: A batalha contra a aids ganha aliados
Autor: Adriana Marcolini
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2005, Empresa & Comunidade, p. F3
Saúde Campanhas para educar e melhorar a qualidade de vida dos funcionários portadores do HIV intensificam-se
Prevenir a aids no mundo do trabalho nunca foi tão importante quanto hoje, quando a doença pode parecer oculta em virtude dos cada vez mais eficazes medicamentos anti-retrovirais. Essas drogas garantem uma boa qualidade de vida, mas não a cura. Algumas empresas despertaram cedo para a ameaça que a aids representa para seus funcionários e intensificam suas campanhas internas. Elas ajudam a disseminar no mundo corporativo a cultura da prevenção desta epidemia. As campanhas da Philips do Brasil incluem a doação de preservativos para funcionários em datas comemorativas como o Carnaval. "As ações internas, que atendem aos nossos 4.500 funcionários, deram origem ao Projeto Doe Vida, uma iniciativa mais ampla, voltada para o público externo", conta a gerente geral de responsabilidade social da Philips para a América Latina, Flávia Moraes. Lançado em 2001, o Doe Vida é dirigido aos estudantes de escolas públicas estaduais entre 14 e 18 anos. Está sendo implementado em Manaus, Recife, Varginha, São Paulo e Mauá, cidades onde a Philips tem unidades. Resulta de uma parceria com as secretarias estaduais de Educação e conta com a participação de funcionários voluntários treinados por um comitê criado na empresa. O sucesso é visível: só no ano passado, foram treinados 300 voluntários. O projeto promove atividades dinâmicas e interativas na sala de aula, voltadas para a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, da aids e da gravidez não desejada na adolescência. "A organização não-governamental Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS) nos apóia na capacitação dos voluntários e em algumas atividades, enquanto o Instituto Kaplan cuida mais da parte operacional", acrescenta Flávia. Entre 2000 e 2004, o Doe Vida atingiu 69 mil estudantes. Até o final de 2005, a meta é chegar à marca dos 100 mil. De acordo com Flávia Moraes, em 2003 o projeto foi apontado como prática recomendada para as empresas, no Fórum Econômico Mundial de Davos, Suíça. Com 24 mil funcionários no país, a Volkswagen do Brasil promove ações educativas o ano todo e dispõe de máquinas de venda de preservativos instaladas em pontos de grande circulação na empresa. Além dessas medidas, a indústria conta com um projeto pioneiro de atendimento aos portadores de HIV e voltado para quem deseja conhecer seu próprio status sorológico: o Aids Care. Lançado em 1996, hoje este projeto é considerado referência mundial, depois de ter conquistado, em 1999, o Prêmio de Reconhecimento do Conselho Mundial Empresarial em HIV/AIDS, entidade sediada em Nova York, formada por 200 grandes empresas globais. A médica Christina Aparecida Ribeiro, coordenadora dos planos de saúde da Volkswagen, explica que a empresa dispõe de um plano médico próprio, que atende a 75 mil usuários, entre funcionários, dependentes e aposentados. "Em 1996, montamos um ambulatório especializado em doenças sexualmente transmissíveis e aids na unidade de São Bernardo do Campo, com um médico infectologista, um nutricionista, uma assistente social e duas psicólogas", relata. Hoje a unidade de Taubaté dispõe de outro ambulatório. Além das consultas especializadas, é possível fazer exames laboratoriais em ambos. "A regra do programa é o sigilo absoluto quanto ao resultado do exame HIV", frisa. De acordo com a médica, desde 1996 até o final de dezembro de 2004 foram registrados na empresa 132 casos de portadores do vírus HIV, dos quais 32 evoluíram para óbito. No momento, 86 pessoas estão em atendimento ambulatorial: 80% são funcionários e os demais são dependentes. A Drª Ribeiro salienta que, graças ao acompanhamento médico proporcionado pelo Aids Care, a Volks conseguiu reduzir em 95% as internações hospitalares dos pacientes atendidos. Ações de prevenção como essas resultaram em uma ampla mobilização, que se concretizou no Conselho Empresarial Nacional de Prevenção ao HIV/AIDS (CEN AIDS). Instituída pelo Ministério da Saúde em 1998, com o incentivo do Programa das Nações Unidas para o HIV/AIDS (Unaids), a organização já conta com 22 grandes empresas e confederações patronais associadas. As afiliadas abrangem um universo de cerca de 10 milhões de pessoas, incluindo os familiares dos funcionários e a mão-de-obra terceirizada. "Nosso foco está na prevenção", afirma o presidente do Comitê Executivo da entidade, o médico Murilo Alves Moreira. "De cada dólar investido por uma empresa em prevenção, são economizados 36 dólares em assistência", enfatiza. Em outubro, quando se celebra o Dia Nacional de Prevenção ao HIV e Aids no Local de Trabalho, o CEN AIDS vai premiar as empresas vencedoras do 1º Prêmio Nacional CEN Aids no Mundo do Trabalho. A premiação será destinada às companhias que se destacarem por seus programas de prevenção.