Título: Curitiba testemunha fim de um ciclo
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Política, p. A6

Os candidatos à Prefeitura de Curitiba enfrentarão as urnas no domingo em posições diferentes das ocupadas no primeiro turno. Antes as pesquisas mostravam o petista Angelo Vanhoni na frente. Desde a apuração dos votos o tucano Beto Richa tomou a dianteira. Agora a preocupação dos dois lados é saber se, desta vez, os números representam a realidade. Vanhoni tem 49 anos e é o candidato do PT à Prefeitura de Curitiba desde 1996. Na primeira disputa, ficou em terceiro lugar. Em 2000 foi para o segundo turno com Cassio Taniguchi (PFL) e perdeu. Desta vez ele conta com o apoio do presidente Lula e também do governador Roberto Requião (PMDB), que afastou-se do cargo na terça-feira para ajudar no corpo a corpo com os eleitores. Filho do ex-governador José Richa, que morreu no ano passado, Beto é o vice-prefeito de Curitiba e, em 2002, foi candidato ao governo do Paraná. Ele está com 39 anos e teve de enfrentar a disputa sem o apoio de Taniguchi. No primeiro turno o PFL tinha candidato próprio. Em seguida os dois declararam que uma reconciliação seria impossível em função de trocas de acusações durante a campanha. "O resultado eleitoral, seja qual for, marca o fim de um ciclo na política curitibana, que se abriu em 1988 com a eleição de Jaime Lerner e com as escolhas sucessivas de candidatos apoiados abertamente por ele", diz o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná. Ele lembra, no entanto, que isso não significa a ruína do grupo político ou o desaparecimento das condições que permitiram sua hegemonia eleitoral. Para Codato, ao contrário do que aconteceu em outras capitais, os eleitores de Curitiba não viram uma disputa ideológica, uma vez que os dois candidatos convergiram para o centro e ocultaram as diferenças que existem entre PT e PSDB. "O PT adaptou seu radicalismo retórico aos novos tempos e baniu o vermelho. O candidato do PSDB, mesmo sendo vice-prefeito, apropriou-se do discurso oposicionista", explicou. Em sua análise, o cientista diz que, enquanto Vanhoni exibe as realizações de Requião, Richa representa a única possibilidade de os mesmos interesses e negócios associados à prefeitura nos últimos anos prosseguirem sem grandes turbulências. Quando Codato fala que o PT baniu o vermelho, refere-se não só ao tipo de discurso, mas também às cores usadas pelo partido. Durante a campanha, Vanhoni adotou uma estrela amarela, que foi colocada no centro das bandeiras azuis exibidas pelas ruas. As cores são as mesmas usadas pelo PSDB. No primeiro turno, Richa ficou com 35% dos votos e Vanhoni com 31%. Mas uma decisão tomada pela equipe de Vanhoni ampliou a vantagem do tucano. Os dois lados lutaram pelo apoio do terceiro colocado, Rubens Bueno (PPS), que conseguiu 20%. Bueno preferiu a neutralidade, mas antes de anunciar a decisão, o PT passou a dizer no horário gratuito que "votar no Vanhoni é como se estivesse votando no Rubens Bueno". O ex-candidato desmentiu a informação a afirmou tratar-se de uma "farsa petista". A estratégia prejudicou a imagem de Vanhoni e, segundo integrantes da equipe, as pesquisas internas chegaram a apontar uma distância de até 20% do candidato adversário. Na única pesquisa do Ibope divulgada no segundo turno, Richa apareceu com 49% das intenções de voto e Vanhoni com 41%, com margem de erro de 3,5 pontos percentuais.