Título: Receita das maiores chega a R$ 1 trilhão
Autor: Antônio Félix
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2005, Especial/Valor 1000, p. A9

Empresas de Valor Exportações ajudaram a impulsionar lucro líquido para R$ 83,6 bilhões, um aumento de 33%

O faturamento das 1000 maiores empresas no Brasil passou pela primeira vez de R$ 1 trilhão, de acordo com o anuário "Valor 1000", que circula hoje para assinantes e venda em bancas. A receita líquida conjunta dessas empresas cresceu 19,1% em 2004 e atingiu R$ 1,04 trilhão, o equivalente a 59,1% do PIB. Em 2003, tinha sido de R$ 877,04 bilhões, ou 56,4% do PIB. O anuário, além de apontar as 1000 maiores companhias por receita líquida, elege aquelas com melhor desempenho em 27 setores, com base em dados de balanço. Essas campeãs setoriais foram premiadas ontem à noite, em cerimônia realizada no hotel Grand Hyatt, em São Paulo, com a presença do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Durante a solenidade, foi anunciado o nome da Empresa de Valor de 2005, a Natura, escolhida entre as 27 campeãs setoriais. O lucro líquido das 1000 maiores companhias cresceu 32,7%, muito acima da receita, e alcançou no total R$ 83,6 bilhões. A rentabilidade do patrimônio (lucro líquido sobre patrimônio líquido) passou de 14,2% em 2003 para 16,6%. "Vários fatores contribuíram para um desempenho tão bom das empresas em 2004, a começar pelo mercado externo", afirma Marcio Fortes, responsável pela área de estudos de empresas e de classificação de risco de grandes empresas da Serasa. Parceira do "Valor 1000", a Serasa capta balanços e prepara rankings. Junto com a FGV/EAESP, outra parceira, também define critérios. Cotações favoráveis de algumas commodities e consumo estabilizado em níveis elevados na China e na Europa puxaram as vendas externas e os resultados das exportadoras incluídas no ranking das 1000 maiores. Com base em relação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Valor Data analisou os resultados das companhias exportadoras incluídas no ranking geral. Esses resultados ficaram normalmente acima da média obtida pelas 1000 maiores. A receita líquida cresceu 22%, em comparação com os 19,1% das 1000. O lucro avançou 37,2% (o das 1000, 32,7%). A rentabilidade do patrimônio alcançou 29,2%, muito acima dos 16,6% das 1000 maiores. Não é de estranhar, portanto, que companhias com forte presença no mercado externo tenham ganhado posição no ranking das 1000. A Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, terceira maior exportadora em 2004 segundo a Secex, passou do 10º para o 9º lugar entre as maiores no país, depois de um crescimento de 30,7% na receita. A Embraer, segunda maior exportadora de acordo com a Secex, saiu da 23ª para a 15ª posição no ranking, com um crescimento de 46,9% na receita líquida. Da mesma forma, a indústria automobilística beneficiou-se da demanda mundial e de fatores que também impulsionaram o consumo interno, entre os quais Torres destaca o crescimento do crédito, com novas modalidades como o consignado em folhas de pagamento e aposentadorias, incentivado por juros básicos em queda na maior parte do ano. Coube às maiores montadoras a principal mudança nas primeiras posições no ranking de "Valor 1000". A General Motors teve um crescimento de 36,3% na receita líquida, saiu do 8º para o 4º lugar e, pela primeira vez, passou à frente da Volkswagen. Esta, diga-se, teve também muito bom desempenho: a receita líquida aumentou 23,9% e a montadora saiu da 7ª para a 5ª posição. De um modo geral, as companhias industriais saíram-se igualmente muito bem no "Valor 1000". Em 2004, pela primeira vez desde 2000, o crescimento do PIB foi puxado pela indústria. "São evidentes os efeitos dessa mudança no desempenho das 526 indústrias integrantes do ranking das 1000 maiores", afirma Willian Volpato, gerente do Valor Data. Nada menos do que 404 das indústrias, ou 76% do total, apresentaram lucro. Entre elas, 301 melhoraram o resultado com sua atividade principal e não com ganhos financeiros. Em conseqüência, a margem da atividade - lucro com a atividade sobre a receita líquida - do conjunto das indústrias, de 17,4%, supera a de 13,3%, média geral das 1000 maiores. A rentabilidade do patrimônio das indústrias, de 25,6%, também fica muito acima da registrada pelas 1000 (16,6%). Para avaliar o desempenho das maiores segundo o porte, o "Valor 1000" dividiu as companhias em cinco faixas de acordo com a posição no ranking. Uma conclusão é de que as maiores são mais rentáveis. As empresas colocadas entre a 1ª e a 200ª posição apresentam a maior rentabilidade do patrimônio, de 19,1% Aquelas colocadas na última faixa, entre o 801º e o 1000º lugar, a pior: 10,7%. Outra conclusão, porém, é que as menores são mais líquidas. As companhias incluídas entre as duzentas maiores têm o índice de liquidez corrente - ativo circulante sobre passivo circulante - de 1, o menor. Contam com um real de recurso disponível para cada real de obrigações. Já na média das 200 menores companhias, o índice é de 1,47, o maior.