Título: Investimentos se mantêm , apesar da crise política
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2005, Especial/Valor 1000, p. A11

Conjuntura Empresários gostaram de explicações de Antonio Palocci

Os projetos de investimentos das principais empresas instaladas no país estão sendo mantidos, apesar da crise política, da valorização do real em relação ao dólar e de alguma desaceleração dos negócios, observada nas últimas semanas. Essa é a avaliação feita pela maior parte dos empresários que participaram, ontem à noite, em São Paulo, da cerimônia de entrega do prêmio "Empresa de Valor" de 2005, do anuário "Valor 1000". Para eles, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi convincente ao rebater denúncias feitas pelo ex-assessor Rogério Buratti, e o comportamento do mercado, ontem, foi a prova disso. Até mesmo em caso de saída de Palocci do ministério, eles acreditam que o compromisso do governo com a política econômica será mantido. A Natura é uma das empresas que não pretende rever os investimentos programados para este ano, que somam R$ 120 milhões, segundo o presidente da empresa, Alessandro Carlucci. A maior parte do dinheiro, diz, será aplicada em infra-estrutura de distribuição e logística. A Souza Cruz também manterá os investimentos programados para este ano. De acordo com o presidente Nicandro Durante, a empresa deve investir R$ 100 milhões. "A crise política não nos preocupa, o que nos preocupa é o crescimento econômico do pais", avalia o executivo. O presidente da Souza Cruz disse que projeta crescimento entre 3% e 4% neste ano. "As exportações devem crescer 9%, embora com lucro menor, por causa da defasagem do câmbio", disse. O principal executivo do braço operacional da Semp Toshiba, Sergio Loeb, afirma que a crise política não irá alterar a decisão da empresa de investir no aumento da capacidade de produção. A Copa do Mundo deve aumentar a demanda por televisores em 2006. "Nós vamos começar a avaliação dos nosso investimentos agora. Como esses investimentos têm um prazo de maturação de seis a oito meses, eles precisam ser decididos neste momento", afirma Loeb. A utilização da capacidade muito próxima do limite para o setor deve levar a distribuidora de aço Rio Negro, empresa do sistema Usiminas, a investir de US$ 6 milhões a US$ 8 milhões no próximo ano na aquisição de novos equipamentos. "Começamos com um terceiro turno em algumas máquinas e já estamos com 65% a 70% de nossa capacidade em uso. Por isso estamos estudando o investimento", afirma o presidente da Rio Negro, Carlos Jorge Loureiro. Ele ressalta, que o investimento depende da evolução do câmbio e de como a cotação do dólar vai afetar as vendas da indústria automobilística. Para Loureiro, a crise política não deverá afetar o investimento previsto. A demanda do setor de bens de consumo, segundo ele, segue razoável, com pouca interferência do cenário político. O presidente da Pirelli, Giorgio della Setta diz que a empresa não vai interromper o programa de investimentos para este ano, que prevê superar os US$ 100 milhões aplicados em 2004. "As últimas semanas foram mais difíceis, mas temos confiança de que esta crise será passageira", afirma della Seta. Já a Fras-le , do grupo Randon, decidiu segurar momentaneamente o investimento na compra de alguns equipamentos, por causa do ambiente negativo criado pela crise política e a valorização do real. Mas isso não significa redução no programa de investimento de R$ 30 milhões previsto para este ano, segundo o presidente do grupo, Raul Randon. Sobre o depoimento de Palocci, Randon disse que foi um "discurso firme e que mostrou que a acusação foi feita sem provas". A Vivo não pretende rever nenhum dos investimentos planejados para o segundo semestre por causa da crise política. "Para a Vivo, nada muda", disse Roberto Lima, presidente da empresa de telefonia celular. "O Brasil é maior do que a crise." Lima destacou a atuação do ministro Palocci em relação às acusações feitas na semana passada. "Foi uma atitude corajosa, eficiente e clara, que restaurou em parte a confiança de que as instituições serão mantidas." Décio da Silva, presidente da Weg, mantém a perspectiva de crescimento de 20% nas vendas deste ano. Investimentos serão feitos para fabricação de novos produtos e expansão de mercado. Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas, afirmou que projeção de vendas de produtos têxteis para este ano se mantém em 140 mil toneladas. A maior parte do crescimento é do mercado externo e não do interno. Segundo ele, Palocci é uma figura "ímpar" e "a entrevista dele colocou fim a todas as especulações". Para a Sadia, as denúncias feitas ao ministro da Fazenda ainda não produziram efeitos no mercado. "O mercado está recebendo bem o comunicado do ministro. Espero que a crise passe rapidamente e o país retome o crescimento", afirmou Gilberto Tomazoni, presidente da empresa. A crise política não afetou os planos de investimento da empresa, que neste ano está fazendo aporte próximo a R$ 500 milhões para ampliar a capacidade produtiva de suas 14 fábricas. O presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, disse não ver sobressaltos no cenário econômico. Ele afirmou que a economia brasileira será beneficiada pela expansão da economia mundial, como o crescimento dos EUA e China. Stênio Jacob, diretor-presidente da Sanepar, disse não temer eventual saída de Palocci do governo, "porque a política econômica está baseada nos interesses dos grandes grupos financeiros do país e não é a mudança de uma peça do conjunto que vai afetar isso". Jacob espera que "a crise não afete nossos investimentos. Hoje mesmo encaminhamos pedido de financiamento de R$ 1 bilhão ao BNDES para obras no Paraná". José Gregório, diretor-presidente da Mineração Serra Grande, também diz não temer a saída do ministro Palocci, " porque considero que o Brasil está maduro para suportar a crise". Para este ano, estão previstos US$ 2 milhões em pesquisas de novas reservas minerais e o número está mantido. A Maringá, empresa que fabrica ferroligas de manganês, utilizadas no setor siderúrgico, acompanha o desenrolar da crise para bater o martelo sobre um novo investimento: a construção da sexta unidade de produção. A estimativa é que a nova unidade consuma investimento de R$ 50 milhões, diz Paulo Nelson Pereira, presidente da empresa. "Essa situação anormal vai se resolver. Já vivemos outras, o Brasil não vai cair", disse. A Usina Batatais, associada da Copersucar, manteve o plano de investimentos, apesar da crise política. "O setor de açúcar e álcool vive ótima fase, com aumento da demanda interna por álcool e alta nos preços do açúcar no exterior. Esses fatores superam possíveis efeitos da crise política", afirmou Bernardo Biaggi, vice-presidente da empresa.