Título: Petrobras define gás e refino como prioridades
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2005, Empresas &, p. B8

Petróleo Plano estratégico prevê investimento anual de US$ 11,3 bi

As áreas de exploração e produção, gás e energia e refino vão receber a maior parte dos US$ 49,3 bilhões que a Petrobras planeja investir no Brasil nos próximos cinco anos. Para cumprir o novo plano, que prevê desembolsos médios anuais de US$ 11,3 bilhões, a companhia vai pedir autorização ao Congresso para investir R$ 36 bilhões em 2006, 24% mais que os R$ 29 bilhões previstos para este ano. A maior fatia dos investimentos continua com a exploração e produção, para onde deverão ser destinados US$ 28 bilhões entre 2006 e 2010. Em seguida ficou o abastecimento (que inclui a área de refino), com US$ 12,9 bilhões; a área internacional (US$ 7,1 bilhões) e gás e energia (US$ 6,5 bilhões). O novo plano de negócios não foi bem recebido por analistas. Em relatório, os bancos Pactual e Brascan chamaram a atenção para o aumento de 63% de investimentos da companhia no período, sem uma contrapartida de elevação da produção ou redução dos custos. O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e o diretor financeiro, Almir Barbassa, explicaram que parte do aumento do investimentos - de US$ 22 bilhões - deve-se em parte a aumento dos custos mas também à antecipação de projetos para produção de petróleo leve e gás, alguns anteriormente previstos para além de 2010. Ao detalhar ontem parte dos investimentos em 298 projetos nos próximos cinco anos, a estatal informou que esses incluem gasodutos, o início da produção de campos de gás (Mexilhão e o BS-500, ainda sem nome), e novas unidades de refino. Ao mesmo tempo, foram cancelados e posteriormente realocados investimentos de US$ 2,5 bilhões, incluindo uma plataforma de produção e armazenamento para Marlim Sul. Admitindo o aumento de custos, Barbassa ressaltou o fato de a companhia estar reduzindo sua alavancagem e a dívida no período, mantendo um caixa de US$ 4,4 bilhões médios para enfrentar turbulências. Os executivos também frisaram que a Petrobras prevê, nas suas projeções, "preços mantidos, na média anual, parametrizados com o mercado internacional". Somente para ampliar a malha de gasodutos estão previstos investimentos de US$ 4,5 bilhões. Não por acaso, a área de gás e energia recebeu reforço de US$ 3,9 bilhões em relação ao investimento anteriormente programado no plano 2004-2010 divulgado ano passado. Esse montante inclui recursos para ampliação do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que terá sua capacidade de transporte ampliada de 30 milhões para 34 milhões de metros cúbicos/dia, e retoma os planos de construção do Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene), em processo de licitação. Gabrielli explicou que a Petrobras precisou trabalhar com a perspectiva de atender a 100% da demanda das termoelétricas (próprias ou as que têm contrato de compra de gás) em despachos simultâneos em 2010, o que elevou a previsão de consumo do gás de 77,6 milhões de metros cúbicos/dia (no plano antigo) para 99,3 milhões de metros cúbicos dia. Desse total, 46,4 milhões serão destinados ao mercado térmico, o que sinaliza preocupação do governo com a oferta de energia elétrica. Como não há possibilidade de aumentar a oferta de gás - que será atendida em parte pela Bolívia e pelo início da exploração de gás bacia de Santos - a Petrobras pretende frear o consumo de Gás Natural Veicular (GNV) no país. "Nós não podemos, dadas as condições da oferta brasileira, ter uma demanda de gás não-térmico crescendo 20% ao ano, incluindo os carros e outros segmentos que contam com fontes alternativas", disse Gabrielli, admitindo elevar o preço do GNV. A declaração foi criticada pelo secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, que acusou a Petrobras de "estelionato energético".