Título: Para produção e preços, panorama ainda incerto
Autor: Cibelle Bouças e Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2005, Agronegócios, p. B12

Ao mesmo tempo em que temem os efeitos da crise política sobre o câmbio, os produtores brasileiros acompanham atentos às previsões ligadas a preço e plantio para fechar suas equações para a safra 2005/06. No seminário de ontem da ABMR&A, analistas da Safras & Mercado traçaram cenários para algodão, café, milho e soja, mas, independentemente das tendências para cada mercado, houve um denominador comum: cautela diante das atuais incertezas. No caso da soja, o analista Flávio Roberto de França Júnior está no time dos que prevêem queda ou, no máximo, manutenção de área plantada no Brasil, com aumento da produção de 50,446 milhões de toneladas na safra 2004/05 (marcada pela quebra na região Sul) para 63,370 milhões na nova temporada. A maior oferta do carro-chefe do campo brasileiro deverá encontrar preços próximos da média histórica em 2006. Em Chicago, Júnior projeta entre US$ 5,80 e US$ 6,40 por bushel no primeiro semestre de 2006, ante os US$ 7,54 de 2004 e os US$ 6,10 dos primeiros seis meses deste ano. Segundo ele, as cotações deverão encontrar suporte na demanda mundial aquecida pelas previsões de crescimento econômico e na queda dos estoques finais americanos, entre outros fatores. Em razão da já certa queda da produção americana, Júnior também prevê aumento da fatia sul-americana nas exportações mundiais, em um cenário mais alentador depois da crise nas lavouras brasileiras no ciclo 2005/06. A soja deverá perder espaço para o milho no Sul, mas o mesmo, segundo Júnior, não deverá acontecer em tradicionais áreas de cultivo do Centro-Oeste, pela baixa produtividade do milho naqueles Estados. Ainda assim a produção brasileira de milho tende a crescer em 2005/06, conforme expôs o analista Paulo Molinari. Ele estima oferta total de 41,013 milhões de toneladas no novo ano-agrícola, ante 36,955 milhões em 2004/05, sempre lembrando a recente quebra no Sul. Segundo ele, como os preços internos atuais do milho também não convidam o agricultor a deixar a soja em algumas regiões, a safrinha de inverno de 2006 deverá ser beneficiada. As exportações, lembrou, também devem seguir paradas por conta do câmbio atual. Molinari alertou, ainda, para a necessidade de o país investir em defesa sanitária para preservar o segmento de carne de frango, grande consumidor de milho, para uma possível chegada ao país do vírus da gripe das aves. Sobre o mesmo tema, ontem o chefe do serviço veterinário do Ministério de Agricultura russo, Yevgeny Nepoklonov, reiterou o pedido de ajuda internacional para financiar a luta contra a gripe. Segundo ele, a doença que atingiu a Rússia em julho passado, pode chegar a Europa e a América do Norte na próxima primavera, levada por aves migratórias. Ou seja, o mal está cada vez mais perto do Brasil. Para o café, Gil Barabach destacou a previsão de queda da produção brasileira em virtude da bianualidade da cultura e previu preços externos firmes. E para o algodão, finalmente, Miguel Biegai estimou demanda interna aquecida em 2006 e preços melhores para exportação.