Título: Dívida pública em títulos sente juro alto e cresce R$ 10 bi, para R$ 915 bi
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2005, Finanças, p. C2

O impacto dos juros na Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) elevou seu estoque a R$ 915,67 bilhões em julho, o que representou aumento de R$ 10,16 bilhões (1,12%) sobre o valor acumulado até junho. Segundo registrou ontem a nota conjunta do Banco Central e do Tesouro Nacional, houve uma discreta piora do perfil, com aumento da participação de papéis vinculados ao câmbio, crescimento da parcela ligada à Selic e redução da porcentagem de títulos prefixados. Quanto aos efeitos da crise política no mercado, o Tesouro reconheceu que houve mais volatilidade na última semana de julho, mas esse fenômeno não prejudicou o cronograma. Isso exige ajustes nos leilões de papéis, com redução de colocações em algumas ocasiões. O coordenador-geral da Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle, informou ontem que agosto tem previsão de R$ 28 bilhões em vencimentos, mas, por enquanto, só foi colocada a metade desse valor. O cronograma deste mês admite emissão de até R$ 35 bilhões. Valle disse que essa volatilidade "não preocupa" e que a administração da dívida está "confortável". Foram adicionados R$ 13,4 bilhões ao que se chama "colchão" da dívida, entre janeiro e julho. O coordenador também disse que o mercado reagiu muito bem na abertura dos trabalhos da segunda-feira. Ele se referia às declarações do ministro Antonio Palocci no domingo, rebatendo as acusações do seu ex-secretário na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), Rogério Buratti. Valle disse ontem que o Tesouro tem caixa para fazer face a alguma emergência porque conseguiu rolar 109% da dívida que venceu entre janeiro e julho. Isso resultou em emissão líquida, em conjunto com o Banco Central, de R$ 25,7 bilhões, nos quais R$ 13,4 bilhões somente do Tesouro. A nota conjunta também informou que subiu de 4,12% para 4,15% a exposição cambial da dívida. Esse movimento não era registrado desde maio do ano passado. O aumento de R$ 710 milhões (de R$ 37,28 bilhões para R$ 37,99 bilhões) foi provocado pela depreciação do real. A cotação média da moeda americana foi de R$ 2,35 (junho) para R$ 2,39, aumentando 1,7%. Outra variação considerada negativa foi a queda de participação na dívida dos papéis remunerados por taxas prefixadas. Em julho, ela foi de 22,37%, contra 22,95% em junho. Essa parcela foi a R$ 204,84 bilhões. A porcentagem da dívida vinculada à Selic (papéis pós-fixados) também cresceu em julho, indo a 57,32% e totalizando R$ 524,84 bilhões. No mês anterior, a participação foi de 56,56%. Quanto aos títulos remunerados por índices de preços, julho registrou queda dessa parcela. Se em junho foi de 13,88%, neste mês desceu a 13,70%, com valor de R$ 125,41 bilhões. O coordenador geral da Dívida do Tesouro explicou que essas quedas nas participações de títulos prefixados e remunerados pelos índices de preços são "normais", conseqüência da concentração de vencimentos de prefixados nas "cabeças de trimestre". Portanto, julho é um desses meses. O chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto (Demab) do Banco Central, Ivan de Oliveira Lima, afirmou que, se os números da dívida em julho forem comparados com os de abril, outro mês que é "cabeça de trimestre", a participação dos prefixados até aumentou. Saltou de 20,25% para 22,37%. A parcela de títulos da dívida mobiliária federal interna com vencimento em 12 meses voltou a cair em julho. Em junho, ela foi de 45,26% e foi a 44,15% no mês passado. E o prazo médio da dívida subiu de 27,11 meses (junho) para 27,57 meses em julho. O prazo médio das emissões dos títulos ofertados nos leilões caiu de 27,08 meses para 25,12 meses. O chefe do Demab informou ontem que o BC atuou 17 vezes em julho para administrar a liquidez de curtíssimo prazo. Em 11 oportunidades tomou recursos em operações compromissadas, com taxa de 19,72% e volume financeiro médio de R$ 14,5 bilhões. O aumento do volume médio em relação a junho (R$ 4 bilhões) foi justificado pelo "expressivo" vencimento de LTN em 1º de julho. As intervenções doadoras do BC foram realizadas na segunda quinzena de julho, à taxa de 19,78%, com volume médio de R$ 2,9 bilhões. A nota conjunta da dívida também informou que o excesso de liquidez provocado pelo resgate de 1º de julho foi "gradualmente eliminado" com a colocação líquida de títulos ao longo do mês passado, pelo Tesouro, e operações compromissadas de três meses. Essa ação absorveu R$ 12,1 bilhões além dos R$ 15,7 bilhões referentes ao retorno de operações da mesma natureza.