Título: Manaus pode ter 3ª gestão de Amazonino
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Política, p. A8

Eleições Pesquisas mostram larga vantagem de pefelista, que teve o apoio do governador Eduardo Braga

O advogado Amazonino Mendes (PFL), apoiado pelo governador do Estado, Eduardo Braga (PPS), disputa domingo a Prefeitura de Manaus com o economista Serafim Corrêa (PSB), apoiado pelos partidos de oposição PT, PDT e PCdoB. Pela pesquisa de intenções do Vox Populi, divulgada semana passada, Amazonino Mendes estava com 54% contra 38% para Serafim. O vencedor vai administrar um orçamento de R$ 1 bilhão de reais, a segunda maior arrecadação de ICMS do país para uma cidade com apenas 1,25 milhão de habitantes. A Zona Franca de Manaus, um complexo de 400 indústrias, é responsável por 98% da arrecadação do ICMS. A verba da capital equivale a 60% de toda a arrecadação do Estado. Apesar disso, Manaus é uma cidade cercada de favelas de palafitas. À beira de dois dos maiores rios do mundo, o Negro e o Amazonas, 500 mil pessoas (40% da população) não tem água tratada e saneamento. Essa semana, duas crianças que moravam em áreas de esgoto a céu aberto, morreram de meningite, doença que já atingiu 85 casos nos últimos oito anos. Há mais de 20 anos, Amazonino é quem dá as cartas no Amazonas. Nesta campanha, ele tem como vitrine grandes obras estruturais (pontes, viadutos, asfaltamento, hospitais e maternidades) construídos durante suas várias passagens pelo governo - 8 anos na prefeitura e 12 anos como governador, mais um mandato como senador. Sua primeira passagem pela prefeitura foi em 1983, nomeado pelo governo estadual. Serafim, que esta semana ganhou o apoio do presidente Luis Inácio Lula da Silva no programa de TV, já disputou a mesma vaga duas vezes antes, sem sucesso. O primeiro turno foi uma verdadeira corrida de obstáculos para os partidos de oposição. Tanto Serafim quanto a deputada federal Vanessa Grazziotin, que foi a candidata do PCdoB e ficou em terceiro lugar, se dizem prejudicados pela falta de recursos financeiros e por uma campanha movida a ataques pessoais, conduzida por aliados de Amazonino. O último golpe, já na corrida pelo segundo turno, foi uma acusação de que Serafim teria um filho não reconhecido fora do casamento, e estaria ameaçando a suposta mãe da criança (cuja existência até agora não foi comprovada) a médica Maria Soraia Elias Pereira. O coordenador da campanha de Amazonino, Egberto Batista, notabilizou-se em 1989 ao trazer para o programa de TV do então candidato Fernando Collor, a enfermeira Miriam Cordeiro, mãe de uma filha que o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve fora do casamento. Serafim acusou publicamente Batista de ter arquitetado o que ele chamou de "farsa do Caso Soraia". Batista nunca respondeu às acusações, oficialmente apresentadas à Câmara por um vereador aliado. A estratégia da oposição foi o ataque direto ao candidato do PFL e seus aliados, por abuso do poder político e econômico, com base em fatos e denúncias amplamente divulgados pela imprensa. Mas foram barrados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por onde os programas passam antes de chegar às emissoras de TV - ao contrário da maioria dos Estados, em que são entregues pelos partidos diretamente nas emissoras. Segundo o diretor geral do TRE, juiz Henrique Levy Neto, esse sistema foi adotado em 2002 à pedido da própria oposição. Foto: Divulgação

Serafim termina campanha negando acusações de ter um filho fora do casamento Os juízes da propaganda do primeiro turno, Jomar Fernandes e Flavio Pascarelli Lopes foram acusados pela oposição de terem sido coniventes com o uso dessa tecnologia para censurar previamente a propaganda. A menção a uma pesquisa amplamente divulgada, em que se perguntava ao eleitor "se você não é ladrão, porque vota em ladrão?", foi proibida, apesar de nenhum nome ter sido citado. Outro assunto proibido: o envolvimento de membros do grupo político de Amazonino na Operação Albatroz da Polícia Federal, que investigou, no período de 2002 a 2004, o desvio de R$ 500 milhões em licitações públicas no Estado. Foram indiciadas 38 pessoas, das quais nove eram ligadas ao governador do Amazonas, Eduardo Braga. Amazonino afirmou que não era acusado na Operação Albatroz e por isso a Justiça Eleitoral decidiu que ele não poderia ser associado à operação, na TV. Segundo a advogada Paula Ângela de Oliveira, da coligação "Agora é a vez", que apóia Serafim, representantes e advogados da coligação adversária tinham "acesso livre à ilha de edição" do TRE, participavam dela, determinando o que deveria ser censurado e o que não. A lei diz que os candidatos que se sintam ofendidos peçam direito de resposta depois da transmissão, não antes, lembra Paula. Vanessa e Serafim apelaram ao TSE e conseguiram a substituição daqueles juízes. Mas o estrago já estava feito. Ao Valor Serafim disse que esses são episódios superados e que o "Caso Soraia", na verdade "prejudicou a campanha deles". Na quarta-feira, o governador Eduardo Braga, cabo eleitoral de Amazonino, liberou antecipadamente a primeira metade do décimo-terceiro, normalmente paga ao final de novembro.