Título: Depoimento de Buratti é o Dia D de ministro
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Política, p. A5

O depoimento de Rogério Buratti hoje, na CPI dos Bingos, é considerado o Dia D do ministro Antonio Palocci. Na avaliação da oposição e de setores do governo, se Buratti fizer novas denúncias contra o ministro, a situação de Palocci ficará insustentável. Se o advogado apenas repetir o que disse ao Ministério Público de São Paulo na semana passada, o ministro ainda terá chances de sobreviver. A avaliação dos oposicionistas é que, mesmo sem ter conseguido desmentir inteiramente as acusações de Buratti, Palocci se saiu bem na entrevista coletiva de domingo. "Existe um consenso tácito de deixar por menos o que foi descoberto até agora, mas esse consenso está no limite. Se aparecerem novos elementos, a situação ficará difícil", disse ontem o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Na opinião do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), a situação de Palocci não é tranqüila. "Ele pode crescer ou cair depois do depoimento de Buratti", comentou. Para seu colega de partido, senador José Jorge (PE), o ministro já deveria ter saído. "Não vejo como um ministro da Fazenda possa se submeter a uma investigação que vai durar pelo menos 90 dias. Nessa situação, ele pode ser chantageado", justificou o senador. A situação de Palocci se complicou na noite de ontem, quando surgiram informações de que, em 2003, ele conversou, por telefone, 18 vezes com Buratti. Na entrevista, ele havia dito que tinha conversado apenas três vezes. Ontem, assessores do governo estavam preocupados com a contradição, que será explorada pela oposição durante o depoimento de Buratti. Preocupado com a reação dos mercados ao depoimento de Buratti, o governo tentou tornar secreta a sessão da CPI dos Bingos que ouvirá o ex-assessor de Palocci. A articulação falhou porque a oposição não concordou com a manobra, desencadeada pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Já na quarta-feira, Mercadante procurou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do PMDB, Ney Suassuna (PB). Os três resolveram consultar Palocci, que deu sinal verde à iniciativa. O passo seguinte foi procurar os líderes da oposição, que reagiram à idéia, inclusive, com o argumento de que eventuais vazamentos durante a sessão secreta poderiam ter efeitos muito mais devastadores sobre os mercados. O Planalto preferiria passar a semana sem o depoimento de Buratti. À exceção da pesquisa Datafolha, que mostrou o prefeito de São Paulo, José Serra, pela primeira vez à frente do presidente Lula, a avaliação era que o governo poderia enfim passar uma semana sem sobressaltos. Mas a justificativa apresentada por Buratti para não depor, a de que estaria doente, não convenceu os senadores. A estratégia caiu definitivamente por terra quando o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) procurou Suassuna e disse que pediria que uma junta médica do Senado avaliaria a saúde de Buratti, para ter certeza de que ele efetivamente não poderia comparecer à CPI. Suassuna imediatamente avisou Renan e Mercadante. Logo após, os advogados de Buratti confirmaram o depoimento. A avaliação de líderes congressuais é que a situação de Palocci piorou entre o domingo e a quarta-feira. Isso porque o ministro não tomou a iniciativa de falar sobre todos os contratos que a prefeitura de Ribeirão Preto firmou com a empresa Leão Leão. No PT, a expectativa é que Rogério Buratti possa até mesmo recuar do depoimento que prestou ao