Título: Genro de petebista confirma contatos com parlamentares
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Política, p. A8

Acusado de funcionar como intermediário e representante do deputado Roberto Jefferson em transações irregulares com dirigentes de estatais nomeados pelo PTB, o genro do parlamentar, Marcos Vinícius Vasconcelos Pereira confirmou que, em pelo menos três oportunidades, tratou de interesses de empresários com dirigentes petebistas de empresas de governo. Garantiu, porém, que só agiu indiretamente, para atender a amigos, e que os negócios não foram bem-sucedidos. Em uma audiência esvaziada, o genro de Jefferson passou boa parte do depoimento como espectador de acusações e ironias trocadas entre parlamentares governistas e oposicionistas na CPI dos Correios. "O objetivo de sua convocação é uma manobra da base governista, uma birra política, para tentar desgastar o Roberto Jefferson e tirar a credibilidade das denúncias feitas por ele", discursou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que classificou de "completamente inútil" a convocação do parente do autor das denúncias do "mensalão", apontado pelo ex-diretor dos Correios, Maurício Marinho, como "olhos e ouvidos" de Roberto Jefferson. "Querem desestruturar o Roberto Jefferson", acusou a senadora Heloísa Helena (PT-AL). "O senhor se considera mais importante que o José Dirceu, que o Luiz Gushiken, que o José Genoino, que o Paulo Okamotto?", perguntou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), para ouvir uma resposta negativa. "É porque o senhor está aqui para que outras pessoas não estejam", concluiu o petebista. Os governistas reagiram, com a lembrança, pela senadora Ideli Salvatti, de que o requerimento para ida do genro de Jefferson foi feito por um oposicionista, o deputado Pompeu de Matos (PDT-RS). "Sua convocação tem mais nexo com as investigações nos Correios que muitas das convocações que tem sido feitas aqui, com objetivo eleitoreiro", argumentou Maurício Rands (PT-MG). O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) argumentou que segundo notícias sobre o depoimento de Maurício Marinho ao Ministério Público, Marcos Vinícius foi apontado como pessoa de confiança de Jefferson, que teria sido escolhido para fiscalizar a atuação do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri nas transações com estatais. Apesar da disputa, o genro de Roberto Jefferson pouco fez além de confirmar as versões do sogro a respeito das negociações com o PT, para financiamento de campanhas eleitorais. Marcos Vinícius garantiu que os R$ 4 milhões recebidos por Jefferson a partir de empréstimos feitos pelo publicitário Marcos Valério de Souza não foram repassados ao partido, porque os petistas não teriam entregue recibos da transação. Disse acreditar que Jefferson ainda está com o dinheiro. Em um sinal da falta de elementos para inquirir o genro de Jefferson, parte do início da audiência foi gasto com perguntas sobre a origem do apelido "Nescau", usado no PTB para se referir a ele. "Pensei que, como o slogan do Nescau é 'sabor que alimenta', e o senhor era encarregado de pegar dinheiro, tivesse alguma relação, comentou Ideli Salvatti, fazendo confusão com o sabor de outro achocolatado.