Título: Caixa 2 será a senha para lista de cassações, diz relator da CPI
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Política, p. A8

Não haverá condescendência com parlamentares envolvidos em práticas de caixa 2 para campanhas eleitorais, sinalizou ontem o relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que pode apresentar amanhã - "ou no mais tardar na terça-feira" - o primeiro relatório parcial com provas e indícios que podem levar à cassação de deputados. Segundo o próprio Serraglio, o relatório fará uma classificação "segundo a força da prova". "Admitir o caixa 2 é atentar contra dois princípios: o democrático, porque estaria aceitando que o voto pode ser comprado; e o republicano, porque concordaria que se pode mascarar as eleições", definiu. O relatório parcial terá que ser aprovado pelo plenário da CPI e em seguida será enviado ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que terá duas opções: enviá-lo à CPI Mista do Mensalão ou ao Conselho de Ética da Casa. Apesar de divergências entre governo e oposição, os parlamentares aprovaram ontem uma série de requerimentos consensuais, incluindo um em que solicitam à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a agenda de trabalho de seu antecessor, o deputado José Dirceu (PT-SP), em viagem à Nova York em março deste ano. O requerimento é de Eduardo Paes (PSDB-RJ). A oposição suspeita que o ex-ministro possa ter se reunido, nos Estados Unidos, com representantes do Citibank ou da multinacional Portugal Telecom. O depoimento do publicitário Duda Mendonça levou a CPI a concentrar o foco de investigações também na evasão de divisas e na conexão do caixa 2 com lavagem de dinheiro. Duda admitiu que recebeu pagamentos do PT pelo empresário Marcos Valério de Souza, num esquema de repasses no exterior. O publicitário tinha uma conta no Citibank, em Nova York, em 1998, por onde teria recebido recursos do ex-prefeito Paulo Maluf, conforme investigações em curso na Polícia Federal e Ministério Público. A CPI também decidiu pedir à Polícia Federal a lista de pessoas físicas e jurídicas que comprovadamente fizeram evasão de divisas. Os parlamentares vão travar novo embate hoje ao votar os requerimentos que tratam das convocações do deputado José Dirceu, do doleiro Antônio Oliveira Claramunt (o Toninho da Barcelona) e do ex-ministro Luiz Gushiken, atual responsável Núcleo de Assuntos Estratégicos. Foi aprovada ontem a reconvocação do ex-chefe de Administração dos Correios Maurício Marinho. Também prestarão depoimentos o presidente do BMG, Ricardo Guimarães, e dois funcionários do Banco Rural citados pela ex-diretora financeira da SMP&B Simone Vasconcelos, em seu depoimento à CPI. Ela fez os saques mais vultosos nas contas da SMP&B, agência de Marcos Valério. Os empréstimos de Valério para o PT foram feitos no BMG e Rural. Serão convocados ainda Soraya Garcia, do diretório do PT, e os sócios da corretora Bônus-Banval, que teria operado no esquema de caixa 2 do PT. Ontem, o relator conseguiu consenso para aprovar dois requerimentos referentes a Toninho da Barcelona. Em um deles, pede a cópia completa do livro de visitas do presídio Adriano Marrey, em Guarulhos (SP), onde Toninho cumpria pena de 25 anos. O doleiro disse ter sido procurado por advogados do PT, mas alega que isso ocorreu no fim de junho, quando ele já estava em outra penitenciária. Serraglio disse que, quando a CPI foi a São Paulo para conversar com o doleiro, solicitou o livro, mas recebeu informações incompletas, com horários desorganizados. Em outro requerimento, o relator solicita cópia do inquérito da rebelião que ocorreu no presídio em 24 de junho. Foi naquele dia que Toninho da Barcelona pediu autorização para dar entrevista. Foi responsabilizado como o mentor da rebelião e transferido, em seguida, para a penitenciária de segurança máxima de Avaré. A CPI conseguiu aprovar também o requerimento em que solicita à Polícia Federal todos os dados apreendidos no disco rígido de computadores da Barcelona Tour, agência de turismo do doleiro.