Título: CPI quebra sigilo bancário de três fundos
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Política, p. A9

Crise Dados referem-se a investimentos feitos nos últimos 5 anos apenas no BMG e no Banco Rural

Sem obter resposta da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) sobre operações com títulos públicos feitas pelos dez maiores fundos de pensão nos bancos BMG e Rural, e em meio à já conhecida queda de braço com a CPI Mista do Mensalão, os integrantes da CPI Mista dos Correios aprovaram ontem a quebra de sigilos bancários da Funcef (da Caixa Econômica Federal), Geap (de funcionários da Previdência e Saúde), e Petros (da Petrobras), referentes a investimentos nos últimos cinco anos feitos pelos fundos somente nos dois bancos. Os autores dos requerimentos foram os deputados Onyx Lorenzoni (PFL-RS) e Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). As transferências dos sigilos foram aprovadas pouco antes de dirigentes dos fundos participarem de reunião fechada, na sala ao lado, da CPI do Mensalão, organizada por parlamentares da base aliada. "Foi uma manobra errada do governo. Tentaram aliviar a situação dos fundos e nós quebramos os sigilos aqui", avaliou um integrante governista da CPI. Os dirigentes dos fundos informaram que já tinham enviado os dados solicitados pelos parlamentares sobre títulos públicos à SPC e Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No entanto, nada chegou à CPI. Hoje, a CPI retoma as votações de transferências de sigilos, nos mesmos moldes, dos seguintes fundos: Centrus, Real Grandeza, Eletros, Serpros, Postalis, Portus e Previ. Também hoje a CPI vai decidir se convoca Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. A tendência é que o requerimento seja aprovado. Na segunda-feira, o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) conversou com o secretário de Previdência Complementar, Adacir Reis. Cobrou os dados dos fundos. O secretário informou que o requerimento da CPI sequer tinha chegado à SPC. Os oposicionistas checaram, então, a data em que o requerimento foi enviado: 18 de agosto, ou seja, na sexta-feira anterior. A situação irritou ainda mais a oposição, que começara a cobrar do presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), posturas mais firmes para assegurar a investigação dos fundos e estatais. O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), reuniu-se com o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e reclamou da leniência do Ministério da Previdência. Também sentindo-se desconfortáveis com as críticas de que a CPI havia se tornado "chapa branca", Delcídio Amaral e o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), aprovaram a inclusão das quebras de sigilos dos fundos na pauta da reunião de ontem. A CPI investiga a origem de recursos que entraram nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda. Marcos Valério foi o operador de empréstimos milionários ao PT, que serviram para quitar dívidas de campanha por meio de um ramificado e vultoso esquema de caixa 2. Segundo o deputado Onyx Lorenzoni, a suspeita é que os fundos vendiam títulos com deságio para o Banco Rural e o BMG, e os recursos eram remetidos ao exterior ilegalmente, para fortalecer o esquema de caixa 2 do PT. Em nota, a GEAP informou que não possui investimentos nem realizou qualquer movimentação financeira nos Bancos BMG e Banco Rural desde 1999, como informou a Delcídio Amaral, no último dia 4 de agosto.