Título: Três Poderes assinam nota em defesa das instituições
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem novos movimentos para tentar afastar o governo da crise política que já dura três meses. O principal deles foi a reunião com os presidentes da Câmara, Senado, Supremo Tribunal Federal, o procurador geral da República, Antonio Fernando de Sousa, e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. O encontro buscou garantir compromisso de normalidade no funcionamento do Estado mesmo em meio à crise política. O presidente participou também de solenidade para a entrega de ambulâncias e compareceu à discussão no Palácio do Planalto sobre o programa Tesouro Direto. A reunião com os presidentes dos três poderes foi convocada pelo próprio presidente Lula. Na verdade, ele conseguiu de seus colegas a corroboração do discurso que o governo faz desde o início das investigações do Congresso. Eles assinaram uma nota, preparada pelo Palácio do Planalto, e discutida com eles anteriormente, em defesa das investigações e punição daqueles que cometeram ilícitos, além de defesa da reforma política. Durante o encontro, o presidente apresentou o projeto de combate à lavagem de dinheiro. Pela proposta, qualquer crime que envolva dinheiro poderá ser tipificado na legislação como lavagem. Antes apenas oito crimes figuravam nesta lista, entre eles, o narcotráfico, contrabando de armas e crimes contra a administração. Os governos estaduais também poderão participar da recuperação de ativos desviados por meio da lavagem de dinheiro. Pela atual legislação, esta é uma prerrogativa da União. "É um projeto importante para a construção de uma cultura de combate à lavagem de dinheiro no Brasil", defendeu Márcio Thomaz Bastos. Lula, Renan Calheiros, Severino Cavalcanti e Antônio Fernando de Souza defenderam a reforma política em tramitação no Congresso para permitir maior transparência ao regime democrático. Para reafirmar mais um a vez a confiança no ministro da Fazenda, o presidente fez questão, pelo segundo dia consecutivo, de participar de evento ao lado de Antonio Palocci. Lula compareceu à reunião da equipe de governo no Palácio do Planalto que discutiu o programa Tesouro Direto. Em mais um evento para divulgar as ações do governo, ao lado do governador do DF, o presidente Lula entregou à Secretaria de Saúde local 37 ambulâncias para o programa Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Ministério da Saúde. Ao lado do governador do DF, Joaquim Roriz, do PMDB, um inimigo histórico do PT local, mas com bons índices de aprovação junto à população, ele ressaltou a necessidade dos governos estaduais e o federal trabalharem juntos para melhorar o atendimento à população. A necessidade de mostrar as ações do governo foi reforçada pela pesquisa divulgada ontem pelo Ibope. O levantamento mostrou a vitória do tucano José Serra contra Lula num eventual segundo turno, caso a eleição fosse hoje. A confiança no presidente caiu 10 pontos, de 53% (julho 2005) para 43% (agosto 2003). A pesquisa foi considerado um forte sinal de que o governo se distanciou principalmente dos formadores de opinião. Segundo assessores do Palácio do Planalto, Lula só conseguirá se reeleger se reconquistar o apoio perdido da classe média. mas ainda há confiança na recuperação porque ela seria o reflexo de exposição negativa durante três meses do PT, do governo e do presidente Lula. A solução, segundo assessores, é fazer com que os ministros vençam o impacto produzido pela crise e saiam da letargia em defesa do governo mostrando as ações administrativas e realizações à população. Para o presidente do Senado, Renan Calheiros, a queda não é uma surpresa. "O governo poderia aproveitar para fazer uma sintonia na administração e na relação com seus aliados", afirmou. Para o ministro das Relações Institucionais, a pesquisa foi uma radiografia do momento. "Mas ainda há recuperação", defendeu. (Colaborou Juliano Basile)