Título: Tarso recua e PT tenta recompor chapa
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Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Política, p. A10

"Minha posição não mudou nada", disse ontem ao Valor o presidente do PT, Tarso Genro, ao reafirmar que não disputará a presidência do partido, se o ex-ministro José Dirceu (SP) se mantiver na chapa do Campo Majoritário ao Diretório Nacional. Tarso, no entanto, resolveu esperar o fim das negociações para a composição de uma nova chapa. No início da semana, Tarso Genro estabeleceu um prazo até ontem, quarta-feira, para que Dirceu deixasse a chapa ou ele próprio renunciaria à sua candidatura. Dirceu considerou "uma vilania" a posição de Tarso e disse que não sairia. Ontem, o ex-ministro da Casa Civil ratificou a intenção de permanecer na chapa, mas ele pode ainda rever essa decisão. O fato é que tanto Tarso como Dirceu deram um passo atrás, após uma série de conversas que incluiu até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, Tarso se reuniu com Lula e o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, separadamente. Lula pediu que ele tentasse conquistar o próprio espaço dentro do partido e disse que o governo não queria ser o juiz da disputa. "O que houve foi um ruído de comunicação", disse Wagner, ao tentar explicar que Tarso Genro não dera um ultimato a José Dirceu. Segundo Tarso lhe teria relatado, disse Jaques Wagner, ele procurara Dirceu para dizer que, como a eleição para o Diretório estava próxima - será no dia 18 de setembro - seria "interessante" que a chapa fosse organizada o mais rapidamente possível. Jaques Wagner, na realidade, tenta "distensionar" a disputa interna do PT: na conversa, Tarso efetivamente pediu para Dirceu sair e o ex-ministro prometeu analisar a sugestão, mas radicalizou quando o presidente interino do PT tornou pública a proposta. O próprio Jaques Wagner deixou claro ontem que a saída de Dirceu é pré-condição para Tarso Genro se candidatar. "Ninguém está impondo nada", disse o ministro das Relações Institucionais, "mas se ele (Dirceu) fizer um gesto, reconheça que é uma pessoa polêmica, para não contaminar o processo, um gesto de retirada para a preservação do partido e da chapa". O deputado Ricardo Berzoini (SP), secretário-geral do PT, também concorda com o afastamento de Dirceu. "É importante que ele saia da chapa sem pré-julgamento. Quem julga é o Conselho de Ética da Câmara e a Comissão de Ética do partido", disse. Enquanto Tarso circulava pelo Palácio do Planalto, José Dirceu se reunia no Congresso com o senador Aloizio Mercadante, o assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda. Dirceu disse que aquela era uma situação que não fora criada por ele, mas por Tarso Genro. O ex-ministro insiste na teoria de que nada comandou contra o presidente do PT, mas que o próprio Tarso assustou o Campo Majoritário. De fato, Tarso Genro já desagradara grande parte do campo majoritário com suas críticas à política econômica, mas a situação se agravou na terça-feira depois que ele afirmou que não tinha condições de pedir votos para o PT, no momento, e começou a falar também em "pós-Lula". O próprio ministro Antonio Palocci, às voltas com as acusações de seu ex-assessor Antonio Buratti, encontrou tempo para reclamar das posições de Tarso. Se dependesse de Palocci, o novo presidente do PT seria o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. Mas ele não quer. Ricardo Berzoini, que também era uma opção, deixou de ter o apoio do Campo Majoritário, depois que assumiu as posições de Tarso Genro. Uma saída analisada pelos caciques petistas é que nem Tarso nem Dirceu deixem a chapa do Campo Majoritário, por enquanto. No PT, o Diretório Nacional é constituído depois das eleições, proporcionalmente à votação obtida por cada chapa. Dirceu então não seria indicado para as vagas do Campo Majoritário. Pelo menos até a conclusão do processo de cassação aberto contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Se não vier a ser cassado, poderia então retornar ao diretório.