Título: Olacyr de Moraes tenta manter ações da ferrovia que idealizou
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2005, Empresas &, p. B1

Transporte Empresário negocia dívida de US$ 60 mi, garantida por papéis da Brasil Ferrovias

O empresário Olacyr de Moraes, dono do grupo Itamaraty, luta para manter sua participação acionária na nova Brasil Ferrovias, mas poderá ter de abrir mão dela caso não consiga se livrar da perseguição de credores. A Brasil Ferrovias controla as empresas Ferronorte e Ferroban. "Como idealizador, o desejo do Olacyr, e até de outros sócios da empresa, é manter uma posição acionária", disse o advogado Walter Catherino, da Constran, a construtora do empresário. "Mas o interesse dele é liquidar a dívida com os credores e se livrar da última pendência." O império do empresário, que acumulou grande fortuna no passado, tem ruído na última década. Ele já foi o maior produtor de soja do país, teve banco e uma das construtoras mais ativas, carregada de obras públicas em sua carteira. Hoje, restam a Olacyr poucos negócios. E sua participação acionária na Brasil Ferrovias é uma delas. A ferrovia - que faz a ligação da região Centro-Oeste ao Sudeste, permitindo o escoamento da safra de produtos agrícolas - realiza hoje assembléia geral extraordinária. O propósito é homologar o ingresso de R$ 841 milhões no capital social da companhia, última etapa da operação financeira que salvou a empresa da situação de insolvência. A maior parcela dos recursos será integralizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que se tornará o maior acionista da nova empresa. A fatia do banco deve chegar a 43%. A participação do BNDES prevê a conversão de dívidas da empresa (holding) e da Ferronorte com o banco no valor de R$ 265 milhões, um empréstimo adicional de R$ 265 milhões e aportes de capital de até R$ 382 milhões. Os fundos de pensão também vão integralizar outra parcela de capital. A Previ, fundação do Banco do Brasil, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal, terão metade do capital da nova empresa. Como não fará novos aportes de recursos, a Constran, de Olacyr de Moraes, terá sua fatia acionária diluída. O empresário tinha 16% da antiga Brasil Ferrovias e sua parcela cairá para menos de 3%. O banco JP Morgan e o fundo Laif também compõe o grupo de acionistas. No entanto, a maior parcela das ações de Olacyr na ferrovia foram dadas a credores em garantia a uma emissão de "global notes" feitas em 1998 pela Constran e não pagas pelo empresário na época do vencimento, em 2001. O valor é estimado em pelo menos US$ 60 milhões. "A disposição dele é pagar a dívida e encerrar a última pendência do grupo Itamaraty", disse Walter Catherino, lembrando que a ajuda do BNDES na Brasil Ferrovias valorizou as ações do empresário. "Isso é positivo para a renegociação com os credores." Entre eles, está a Associação dos Credores da Constran e de Olacyr de Moraes, constituída para resgatar os recursos não-pagos. A associação chegou a obter o bloqueio dos bens do empresário e da construtora por meio de liminar judicial, cassada posteriormente. O processo ainda corre na Justiça paulista. O advogado de Olacyr disse que ainda está buscando com o representante legal do JP Morgan, o trustee das "global notes", uma solução para a liquidação integral da dívida. "Não temos uma proposta formatada", disse. "Ainda irá demorar mais alguns meses." A nova Brasil Ferrovias já anunciou a intenção de investir R$ 1,3 bilhão nos próximos anos com a compra de vagões e modernização de sua infra-estrutura.