Título: Acordo PT-PMDB desconvoca casal Garotinho e preserva Okamotto
Autor: Maria Lúcia Delgado, Daniel Rittner e Mauro Zanatt
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Política, p. A5

Sem nenhum constrangimento, o governo mobilizou a base aliada, liderada pelo PT, para impedir que os sigilos bancário, fiscal e telefônico do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, fossem quebrados ontem pela CPI Mista dos Correios. Para compensar a mobilização, teve que atender a pedidos dos aliados e apressou-se em lutar, na CPI dos Bingos, pela desconvocação da governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), e de seu marido, Anthony Garotinho, ex-governador e atual secretário estadual de Governo e Coordenação. O governo quis evitar a repetição da derrota que sofreu na manhã de ontem, na abertura da sessão da CPI dos Bingos. Para surpresa dos petistas, o presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), colocou em votação um requerimento do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) pedindo a convocação do doleiro Toninho da Barcelona. Apenas dois senadores do PT - Tião Viana (AC) e Flávio Arns (PR) - estavam no plenário naquele momento, dominado por oposicionistas, e sequer tiveram tempo de discutir o assunto antes da aprovação do requerimento. "Pô, Ney, o PMDB nos deixou sozinhos aqui", reclamou Tião Viana pouco depois ao líder do partido, Ney Suassuna (PB), referindo-se à falta de aliados na CPI dos Bingos. O depoimento ainda não tem data marcada, mas revelou a fragilidade do governo no Senado, que tentava adiar a convocação do doleiro na CPI Mista dos Correios. O acordo para desconvocar o casal Garotinho, chamado para explicar suas ligações com o ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz, teve a chancela de Tião Viana, autor do requerimento aprovado. "O PMDB me procurou e pediu para aguardar um momento político mais adequado para a convocação", justificou Tião. Ele afirmou que a proposta partiu de Suassuna e do senador Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ). Setores da oposição, porém, discordaram da manobra. "Aqui, vamos pegar de Juscelino Dourado para cima. Até chegar em Palocci", afirmou um dirigente da CPI. Dourado é chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e vai depor na comissão por suas estreitas ligações com Buratti. A manobra levantou suspeitas de um "acordão" entre governo e oposição para salvar o casal Garotinho do desgaste da CPI em troca de uma "blindagem" a Palocci, no caso em que foi acusado por seu ex-assessor Rogério Buratti, de receber R$ 50 mil por mês para o caixa dois do PT quando era prefeito de Ribeirão Preto. "Chamar Garotinho, tudo bem, porque ele tinha algum vínculo com o caso, mas Rosinha não teve nada em seu governo que a ligasse com Waldomiro Diniz", ponderou o relator da comissão, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Na CPI dos Correios, o governo conseguiu derrubar o requerimento da oposição que pedia a quebra de sigilos de Okamotto. Apresentado pelos deputados pefelistas Onyx Lorenzoni (RS) e Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), o requerimento foi rejeitado por 12 votos a 10, e uma abstenção. Além dos petistas, votaram com o governo parlamentares do PP, PL e PMDB. Okamotto saldou uma dívida de R$ 29.436,26 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT, por meio de depósitos feitos em uma conta no Banco do Brasil. Segundo o partido, trata-se de "adiantamento" repassado a Lula para participar de viagens internacionais em 2001 pelo PT. Os depósitos foram descobertos depois que o PT, espontaneamente, transferiu seus sigilos para a CPI dos Correios. O fato de, na contabilidade do PT, ter constado a dívida de Lula como "empréstimo" causou constrangimento e irritou integrantes do partido, como o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP). "Eu queria que me explicassem o que é que isso tem a ver com a linha de investigação da CPI dos Correios. A única razão da oposição é tentar atingir o presidente Lula", criticou o deputado Carlos Abicalil (PT-MT). A oposição vai tentar aprovar a transferência de sigilos de Okamotto na CPI dos Bingos, composta somente por senadores. Haverá, ainda, nova tentativa de devassa nessa conta do PT no Banco do Brasil na CPI dos Correios. Os pefelistas e tucanos apresentaram requerimentos solicitando a transferência bancária da conta 13.000-1 no BB, alegando que é movimentada pelo partido com outro CNPJ. O deputado Abicalil assumiu o compromisso de solicitar à tesouraria do PT que envie dados sobre a conta, sem que seja necessária a quebra de sigilo. A oposição concordou em esperar até a próxima semana. A CPI dos Correios aprovou outras transferências de sigilo. O Banco Central, por exemplo, terá que enviar à comissão cópias de todas as auditagens, notificações e relatórios de fiscalização realizados, nos últimos cinco anos, no Banco Rural e BMG. Os dois bancos fizeram empréstimos para o PT e o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. A CPI aprovou ainda a transferência de novos sigilos telefônicos de Valério (de celulares) e da diretora financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos. Os parlamentares terão acesso ainda aos sigilos das empresas Amazônia Celular e Telemig Celular, do Grupo Opportunity. Valério tinha contratos com ambas. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato - responsável por arrecadar recursos para o PT - também terá as contas fiscalizadas. A CPI vai investigar também toda a movimentação financeira das empresas do publicitário Duda Mendonça e sócios. Os parlamentares vão solicitar o auxílio da Polícia Federal para acionar a Interpol e tentar rastrear depósitos feitos em paraísos fiscais para a off-shore de Duda, a Dusseldorf.