Título: Juros altos atraem dólares
Autor: Cristino, Vânia ; Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 17/04/2010, Economia, p. 18

Preços da moeda americana voltam a subir, mas Fazenda teme que aumento da taxa Selic estimule uma enxurrada de recursos estrangeiros para o país. Banco Central está agindo para evitar que cotação caia abaixo de R$ 1,75, prejudicando as exportações

Apesar de reconhecer que, em momentos específicos, a alta da taxa de juros (Selic) é o instrumento mais adequado para conter pressões inflacionárias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está convencido de que o aperto monetário que será iniciado no fim deste mês atrairá mais dólares para o Brasil, o que, por tabela, jogará os preços da moeda americana para baixo. ¿A elevação dos juros, em determinadas situações, é necessária, mas traz custos para o próprio Estado, pois, além de encarecer a rolagem da dívida (pública), provoca a valorização do real, o que não é desejável para a produção brasileira¿, afirmou, durante o 21º Congresso Brasileiro do Aço. O comentário do ministro ganhou relevância porque, um dia antes, na quinta-feira, o Banco Central, liderado por Henrique Meirelles, foi obrigado a intervir pesado no mercado para retirar o excesso de recursos estrangeiros que entraram no país e que jogaram o dólar para abaixo de R$ 1,75. Esse patamar de preços é considerado um piso para o mercado, pois o impacto de cotações menores sobre as exportações seria enorme. Ontem, o dólar recuperou o fôlego e fechou o dia a R$ 1,76, com alta de 0,4%, o que manteve o BC fora das negociações. A preocupação do governo não é compartilhada pelo economista e ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas. A seu ver, o movimento da quinta-feira foi pontual. ¿O BC entrou comprando dólares porque a cotação estava muito baixa, mas nada no horizonte indica que vá permanecer assim¿, ponderou. Para ele, dado o forte nível da atividade econômica, a tendência é de que o dólar se valorize, com os preços oscilando entre R$ 1,80 e R$ 1,90 nos próximos meses. ¿Veremos um ingresso mais robusto de dólares no país. Mas não será nada dramático¿, frisou. Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, a tendência do dólar é de valorização ao longo deste ano. Tesouro traz US$ 787 milhões O Tesouro Nacional concluiu a emissão de dívida que fez nos mercados norte-americano, europeu e asiático. Ao todo, foram vendidos US$ 787,5 milhões em títulos do governo, com vencimento em 22 de janeiro de 2021. Apenas na Ásia, último dos mercados a receber a oferta de papéis, foram captados US$ 37,5 milhões. O saldo da operação nos Estados Unidos e Europa ficou em US$ 750 milhões. Os títulos foram emitidos com juros de 4,875% ao ano, os menores já pagos por um papel soberano brasileiro, taxa 1,15 ponto percentual acima da cobrada do governo americano. A ideia do Tesouro brasileiro era abocanhar US$ 1 bilhão com a emissão. Mas se optou por um lançamento menor de títulos para haver a garantia de custos menores. O Tesouro estava autorizado a emitir até US$ 2 bilhões. (Deco Bancillon)