Título: Empresários pedem punições a culpados, mas poupam presidente
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Política, p. A8

A discussão sobre a crise política na reunião do Conselhão foi proposta pelos próprios empresários, que não aceitaram a pauta original da Secretaria de Relações Institucionais, que previa apenas a apresentação da Agenda Nacional de Desenvolvimento. Após o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, empresários, sindicalistas e religiosos aprovaram o tom, a oportunidade e o conteúdo das declarações. "Não tinha sentido falarmos só da agenda. Queríamos aproveitar o encontro com o presidente para nos posicionar sobre a crise", afirmou o conselheiro Ricardo Young, do Instituto Ethos. Durante sua intervenção na reunião, Young pediu que o presidente tomasse as rédeas da nação, sem receio e com determinação. Os quatro conselheiros que discursaram na presença do presidente foram escolhidos pela Secretaria de Relações Institucionais. Todos criticaram os culpados pelos desvios, mas pouparam o presidente. O discurso mais contundente foi o do representante da CNBB, bispo Dom Demétrio Valentini. Ele criticou a espetacularização da política e a antecipação do processo eleitoral. "O governo tem direito a um habeas corpus político para garantir condição de prosseguir", afirmou. Diante das cobranças, mas das defesas enfáticas, o presidente, que usava um broche com a imagem de Nossa Senhora Aparecida na lapela, decidiu abandonar parte do discurso escrito em que fazia referências mais brandas à crise. No improviso, fez as declarações mais incisivas, consideradas pelo Palácio do Planalto, como a mais contundente e acertada desde o início da crise. O presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, considerou que o discurso de ontem foi o mais vibrante e corajoso do presidente. "Mostrou que ele está ligado na situação", afirmou. Para Armando Monteiro, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi importante um tom mais forte nas declarações e ter dado a garantia de apuração de todas as denúncias. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que é preciso deixar de lado o cenário político para conseguir separar a economia e permitir a continuidade dos investimentos. Ele criticou, no entanto, o fato do Brasil não ter crescido o suficiente e acompanhado o desenvolvimento mundial. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defendeu as críticas do presidente ao PT. "A sociedade espera que o partido consiga renovar seus quadros na eleição interna de setembro para manter compromissos históricos", afirmou. Jorge Nazareno, da Força Sindical, achou prudente o alerta de que o Congresso não deve se transformar em palanque. (JP)